A notícia de que as doses da CoronaVac, aguardadíssimas no Rio Grande do Sul e em todo o Brasil, chegaria próximo das 23h desta segunda-feira (18) deixou corações aflitos quanto à cerimônia que marcaria o início da vacinação em solo gaúcho. Em que pese a ansiedade, uma certeza: o evento aconteceria naquela noite no Hospital de Clínicas, independentemente do horário. Isso porque, internamente, o governador Eduardo Leite confessou a assessores que não queria nem um minuto de atraso no envio das doses ao interior do Estado.
De fato, as vacinas começaram a ser remetidas para as unidades nesta terça-feira (19).
Comunicadas as equipes, uma questão veio à tona. Como não incomodar uma senhorinha de 99 anos com uma evento tão tarde, já que ela já havia sido convidada para ser uma das personagens símbolos daquele momento histórico? A dúvida não tinha razão de ser. Ela nem cogitou não estar presente. A história foi narrada pelo próprio governador na transmissão diretamente do Clínicas:
- Eu fiquei preocupado e disse: não vamos fazer as pessoas terem que esperar até lá. Abram a possibilidade de que se não puderem estar, tudo bem. Mas ela disse: 'eu quero estar lá'. Dona Eloína Gonçalves Born, 99 anos. Noventa e nove anos. Uma salva de palmas para dona Eloína — chamou o governador.
As lágrimas foram inevitáveis. A coluna conversou com uma série de pessoas que estiveram no Hospital de Clínicas. De todas, um relato uníssono: a comoção de quem estava presente. Choro nos corredores. Choro de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem. A secretária de Saúde, Arita Bergmann, também chorou. O choro de alívio e de esperança veio principalmente dos profissionais de saúde e colaboradores do Hospital, que há quase um ano entregam-se de corpo e alma para atender pessoas contaminadas por um vírus que paralisou o mundo.
A chegada de dona Eloína, com andador, foi um desses momentos em que muita gente se emocionou.
— Ela chegou sorridente, bem devagarzinho, foi um momento muito legal — contou um dos assessores presentes.
No momento das fotos, Leite e Sebastião Melo se abaixaram para se aproximar de dona Eloína, que provocou risos ao se posicionar para dar entrevistas:
— Tá, e agora, o que vocês querem que eu fale? — divertiu.
Nos bastidores, um outro fato chamou a atenção de quem estava no saguão do Clínicas: para além de uma idosa, uma indígena, um profissional de saúde, houve a decisão de que uma profissional da higienização também estivesse entre os selecionados para o início da vacinação. Muita gente naquela "noite clara" — expressão utilizada por Eduardo Leite em alusão à vitória da ciência — se sensibilizou pelo fato de uma categoria muitas vezes esquecida ter sido valorizada pelas autoridades.
Na noite em que a ciência falou mais alto, a esperança se espalhou também pelo Rio Grande do Sul.