Eu confesso a vocês que gostaria de escrever exclusivamente sobre política, tema que acompanho há mais de dez anos enquanto jornalista, desde que ingressei na Rádio Gaúcha e, posteriormente, me tornei correspondente da RBS em Brasília. Mas não consigo ficar calada diante de mais um feminicídio e o relato desesperado de uma mãe que perdeu a filha prestes a completar 26 anos.
Como descreveu a repórter Jeniffer Gularte, a jovem Liziane era a filha caçula de um casal de diaristas. Nasceu em Tuparendi, mas foi criada junto com a irmã, dois anos mais velha, em Porto Mauá. Na escola, era querida por professores e colegas. Na descrição da mãe, "era uma criança conversadeira", mas tirava boas notas. Há dois anos, havia perdido o pai por doença no coração.
A vida de Liziane foi abreviada assim como tantas outras que relatamos aqui em GZH por um motivo estúpido e quase que inacreditável: ciúme. Que diabos faz um homem imaginar que uma mulher seja sua propriedade? Por que raios o companheiro insiste em enxergar a companheira como um objeto que lhe pertence ou um animal que tem que satisfazer aos seus desejos? Acorde. Estamos em 2020. As mulheres usam calças, sabem dirigir, têm vontades próprias e exigem respeito. Se você não entende esta realidade, volte para o século passado - de onde você nunca deveria ter saído.
E mais: não me venha com o argumento simplista que sugere pensarmos em um parente próximo - mãe, irmã ou coisa do gênero - para que um tarado possa controlar seus ímpetos. Se ela não é sua irmã, merece respeito igual. Se não é sua mãe, deve poder sair livre pela rua sem ter que ouvir gracinha de homem que não aprendeu a respeitar a liberdade de uma mulher. Por favor.
No caso da jovem Liziane, o "companheiro" não gostava sequer que ela conversasse com outros homens. Liziane não trabalhava nem estudava a pedido dele (!). O bonitão tinha ciúme. Para puni-la, decidiu - conforme investiga a polícia - cortar o corpo dela em pedaços. E, depois, se suicidou.
É urgente que reflitamos sobre episódios como este que citei acima. E de novo vou dizer: parem de nos matar. Basta! Para além de justiça - neste caso, o agressor está morto -, é imperativo que conduzamos uma mudança de cultura em nossa sociedade. O respeito à mulher precisa ser item obrigatório no processo de aprendizagem dos nossos meninos. Caso contrário, continuaremos a registrar corpos de mulheres dilacerados por seus companheiros e lágrimas de mães que perderam suas filhas.
A punição, é lógico, é parte importante do processo. Mas sem educação não avançaremos. Sem mudança de cultura, continuaremos a chorar a morte de Liziane e tantas outras mais.