A troca de farpas entre o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan (PSDB), e o vice, Gustavo Paim (PP), acentuada nas últimas semanas, ganhou mais um capítulo após entrevistas em que os dois subiram o tom a respeito da desavença, transmitidas pela Rádio Gaúcha. Conforme a coluna apurou, ainda na semana passada, o Executivo revogou decretos que haviam sido assinados pelo prefeito com o detalhamento de atribuições do vice na gestão municipal. Os textos — que anularam os decretos — foram publicados no mesmo dia em que Paim esteve na Rádio Gaúcha e respondeu as acusações do prefeito, dizendo que as atitudes de Marchezan não estavam "à altura da prefeitura de Porto Alegre".
Um dos decretos revogados estabelecia funções para cada uma das áreas que compunha o gabinete de Gustavo Paim. Consultado pela coluna, o vice-prefeito classificou a medida como "clara retaliação" a seu posicionamento.
Na prática, sem as atribuições, é como se o gabinete de Paim ficasse esvaziado, sem atribuições pré-estabelecidas em decreto assinado pelo próprio prefeito. Abaixo, trecho do decreto de 2019 que atribuía as funções para cada uma das áreas que integrava o gabinete do vice:
À Rádio Gaúcha, na semana passada, Paim disparou contra o prefeito, após ouvir no dia anterior que o impeachment de Marchezan havia sido tramado dentro de seu gabinete. Ele afirmou que o atual chefe do Executivo não gosta de compartilhar decisões e prefere governar sozinho.
— Muitas pessoas me alertavam para esse comportamento. E eu sempre achei que podia ser diferente. Ele afasta quem quer ajudar. O Marchezan não tem apego a democracia. Ele tem uma veia autocrática. A figura de um vice-prefeito que tenha luz própria, que ouse divergir dele, pra ele é uma figura esdrúxula — disparou.
Marchezan, por sua vez, havia declarado em entrevista o rompimento com o vice-prefeito:
— Ele utilizou de forma inadequada, inapropriada, desmotivada e interesseira adjetivos pessoais que não cabem a mim. Isso é um rompimento pessoal e há uma relação institucional quando necessário e o mínimo necessário possível. Não há relação, não há delegação de atribuição. A responsabilidade constitucional do vice é substituir o prefeito quando ele não pode por mais de 15 dias exercer as suas atividades — afirmou.
Paim também relatou que foi excluído de grupos de WhatsApp da gestão municipal.
— Fui retirado do grupo de WhatsApp que recebe a clipagem (seleção de notícias) da prefeitura, manuseado por servidores públicos, pago com dinheiro público. Eu fiz um levantamento, entre secretários e secretários-adjuntos, foram 39 mudanças. Essa destemperança e a ausência de equilíbrio prejudicam quem mais precisa do serviços públicos: o cidadão — afirmou.