Correção: Bolsonaro e Moro assistiram ao jogo do Flamengo no Estádio Mané Garrincha e não no Maracanã, como publicado entre 6h27min e 7h22min de 19 de junho de 2019. O texto foi corrigido.
É cedo para dizer se acerta o ex-juiz federal Sergio Moro ao despir-se do uniforme de ministro técnico e vestir-se como político — agora "real oficial" — como parte dos movimentos de reação à divulgação dos diálogos pelo site The Intercept Brasil. Mas não é possível tapar os olhos à estratégia.
Nos últimos dias, Moro saiu da toca. Respaldado por ninguém menos que o presidente da República, Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça e da Segurança Pública foi ao estádio Mané Garrincha, vestiu a camisa do Flamengo, esteve no programa do Ratinho, orou junto à bancada evangélica e refestelou-se em almoço com parlamentares da Frente Agropecuária, um dos expoentes mais fortes do Congresso Nacional.
Nada mal para quem até pouco tempo se reservava em entrevistas e fazia questão de dizer que não havia se contradito ao assumir um cargo na Esplanda — já que havia afirmado, em entrevista anterior, que jamais "entraria para política".
O novo perfil será ainda melhor observado na manhã desta quarta-feira (19), quando Moro estará diante de senadores experientes na Comissão de Constituição e Justiça para falar justamente sobre os vazamentos que o fizeram mudar de rota. Alguns, inclusive, alvos da Lava-Jato.
Cabe ressaltar que Moro não age isoladamente ao dar passos calculados neste novo cenário. Depois de reunir-se com Bolsonaro, na semana passada, os dois foram juntos à cerimônia de entrega de medalhas da Ordem do Mérito Naval, em Brasília, e o presidente deu sinais de apoio ao subordinado — que foi, inclusive, um dos condecorados na ocasião. O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi às redes defender o ex-juiz como um "herói brasileiro" e que ajudou a livrar o Brasil das garras do Partido dos Trabalhadores.
Repito: ainda é cedo para dizer se a estratégia é a mais acertada. Mas os movimentos de Moro mostram que ele entendeu cedo que Brasília dança em ritmo completamente distinto do que aquele adotado na 13ª Vara Federal de Curitiba.
É importante destacar também que não há nada de errado em admitir-se político agora que — sublinhe-se — já deixou a magistratura. A boa interlocução junto ao Parlamento é um dos aspectos que vem sendo cobrado do governo Bolsonaro — já que a história mostra que não tiveram boa sorte aqueles que viraram as costas para o Congresso.
Isso sem contar que a falta de diálogo com deputados e senadores não ajuda em nada o avanço de projetos que o Executivo percebe como necessários para o país, como a reforma da Previdência e o próprio pacote anticrime, liderado pelo ministro Moro.
Até aqui, trocar a capa de super herói pelo uniforme "político futebol clube" vem sendo um movimento interessante para o ex-juiz federal, cujo apoio popular permanece alto. Mas, em Brasília, a temperatura costuma surpreender até mesmo os mais experientes. Observemos, pois, cenas dos próximos capítulos.