Justicia gendarussa é o nome científico de um arbusto conhecido como quebra-demanda ou quebra-tudo. Nas religiões de matriz africana, o vegetal é usado em banhos, bate-folhas e benzimentos para abrir caminhos e proteger ambientes. É a erva de Ogum e Iansã, orixás guerreiros. Para quem crê, é uma planta de grande poder. Vence tudo.
E é exatamente esta a folhagem a estampar o mural gigante — de 65 metros de altura por 15 metros de largura — que você vê na imagem ao lado.
Captada pelo fotógrafo Ronaldo Bernardi, de GZH, nesta última semana, a foto é o retrato de uma Porto Alegre submersa, frágil e paralisada, em plena Avenida Borges de Medeiros.
Ali, junto de uma das artérias urbanas mais conhecidas da Capital, na empena de um prédio público, está a obra pintada em 2021 pela suíça Mona Caron e pelo paulistano Mauro Neri. No desenho de rara delicadeza, custeado por mais de 130 entidades e instituições, uma mulher negra olha para o céu e, com as mãos espalmadas, exalta a planta mística.
Não sou uma pessoa religiosa, ao menos não no sentido formal, mas respeito quem tem fé e acredito que há um bocado de coisas, entre a terra e o firmamento, que não conseguimos explicar de forma racional.
Quando vi a foto acima, com toda aquela água e tudo mais que a catástrofe climática trouxe de ruim ao nosso Rio Grande, fixei o olhar no mural e lembrei da história que acabo de contar. Tive a certeza de que nós vamos superar as dificuldades e reconstruir o que foi desfeito. Vamos vencer. Que os orixás nos acompanhem.
P.S.: na mesma Avenida Borges de Medeiros, uma quadra depois da obra destacada acima, está outro painel simbólico — e alagado — neste momento crítico. É o mural que destaca a figura do ambientalista José Lutzenberger. Ele foi uma das primeiras grandes vozes no Rio Grande do Sul a alertar para o que estava por vir. Demos ouvidos?