Uma notícia publicada nesta semana no Washington Post, um dos mais influentes jornais do mundo, nos Estados Unidos, me fez parar de rolar o dedo na tela do celular: “Nos cafés da demência do Japão, pedidos esquecidos fazem parte do serviço”, dizia a manchete (veja na reprodução acima).
Ao ler a reportagem assinada por Michelle Ye Hee Lee e Julia Mio Inuma, descobri que o país com uma das populações mais envelhecidas do mundo está se desdobrando para lidar com um desafio gigantesco: o avanço das doenças neurodegenerativas em um número cada vez maior de idosos. Estamos falando de uma nação onde 30% da população de 125,7 milhões de habitantes tem mais de 65 anos.
Os custos elevados e a falta de cuidadores levaram os japoneses a inventar novas maneiras de criar espaços seguros para essas pessoas - onde elas possam interagir, ser produtivas e se sentir úteis.
O conceito de “café da demência” surgiu por lá em 2017, como algo provisório (empreendimentos do tipo "pop-up"), e está se tornando comum.
As repórteres foram a um estabelecimento chamado Orange Day Sengawa, que, não por acaso, ficou conhecido como "Café dos Pedidos Errados", no subúrbio de Tóquio. O espaço tem 12 mesas e contrata idosos com demência para trabalhar como garçons uma vez por mês.
No dia em que elas estiveram lá, os clientes eram recebidos com um sonoro cumprimento de boas-vindas, de um senhor chamado Toshio Morita - ele começou a ter sintomas de demência há dois anos. Todos pareciam gostar dele, até mesmo na hora em que confundia ou esquecia o que lhe era pedido.
As jornalistas explicam: lá, ninguém reclama ou faz estardalhaço por causa disso, porque os clientes sabem onde estão. São compreensivos e até riem com o senhor Morita, que contou se sentir feliz por estar no local. Muitos dos frequentadores têm pessoas como ele na família ou sabem que, um dia, poderão ser como ele.
O avanço da demência é um fenômeno global, que todos os países enfrentam - inclusive o Brasil. E você, iria ou abriria um café desses?