As madrugadas de 27 de janeiro nunca mais foram (e jamais serão) as mesmas em Santa Maria. Desde 2013, vigílias em frente ao que restou da Boate Kiss se tornaram rituais em memória aos 242 jovens mortos no incêndio. Nesta sexta-feira (27), não foi diferente. Mas foi especial.
Nos 10 anos da tragédia, bailarinos dançaram ao som de Hallelujah, de Leonard Cohen. Ao redor, familiares e amigos de vítimas e sobreviventes das chamas sentaram-se no asfalto morno da Rua dos Andradas. O choro dolorido veio em silêncio, enquanto luzes multicoloridas foram projetadas na fachada da danceteria. Fotos exibidas em um telão lembraram os rostos de quem se foi. De repente, vieram as rosas.
De mão em mão, as flores brancas — sem espinhos — foram distribuídas às pessoas presentes.Foi um momento triste e belo. Inesquecível, como queriam os integrantes da associação que reúne pais e mães e jovens que resistiram à fumaça tóxica da Kiss.
Em todos esses anos, acompanhei o rito muitas vezes. Nesta madrugada, vivi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira como jornalista. Também ganhei uma rosa. E também chorei.