Desde que aprendemos que o melhor tratamento da doença é a prevenção, estamos sendo coerentes em divulgar as práticas que, com fundamento científico, mostraram-se efetivas. De qualquer maneira, toda informação séria, sabidamente útil, ainda precisará ser direcionada ao público-alvo com sensibilidade e sutileza.
É completamente previsível que a mesma recomendação acatada com ávido interesse pela população de meia idade será desdenhada pelos jovens que estão vivendo a maravilhosa fase da vida em que predomina a certeza da imortalidade.
Por isso, não perca tempo e trate de fugir do ridículo de ameaçar com doenças degenerativas adolescentes embalados pela fantasia de que tudo o que não tem chance de ocorrer na próxima semana não tem a menor importância. E não há como decodificar para o entendimento deles essas mensagens assustadoras que falam de doenças que, no máximo, evocarão a lembrança dos avós, já bem velhinhos e, portanto, vítimas daquela idade que para eles nunca chegará.
Aprendi essa lição ao ser convidado para falar dos malefícios do fumo para uma turma de adolescentes de uma escola da classe média alta. Meu projeto didático era o de causar impacto, porque estava influenciado pelas campanhas publicitárias do Ministério da Saúde, que decidira colocar nas carteiras de cigarro as fotos mais horripilantes das patologias provocadas pelo tabagismo. Eu devia ter interpretado melhor uma história que me contara um paciente, irreverente e debochado, da sua estratégia para seguir fumando sem sentimento de culpa: sempre selecionava a carteira da sua marca preferida pela advertência. Aos 55 anos, fumante desde os 12, só comprava cigarros com o rótulo mais inofensivo para si: "Fumar faz mal para o desenvolvimento do feto".
Ao ser indagado na conferência sobre quanto tempo de fumo era necessário para colocar uma pessoa na condição de candidato de risco, e eu respondi, honestamente, que pelo menos 20 anos, percebi que as ilustrações de tumores gigantes e enormes bolhas de enfisema não causariam mais do que a sensação de enfaro numa plateia que se sentia separada da ameaça pela proteção de uma eternidade. As coisas começaram a mudar quando trouxe o problema para mais próximo, descrevendo os mecanismos de envelhecimento precoce da pele, acelerando o surgimento de rugas e celulite e, então, pela primeira vez, ganhei a atenção das meninas. Mas os garotos continuavam debochados, e os risinhos só cessaram quando impiedosamente descrevi o efeito danoso da nicotina sobre a intensidade e o tempo da ereção. Atingindo o território sagrado de ambos os sexos, a conferência finalmente começou depois de um tempo perdido com informações ingênuas e inócuas. E, então, caiu no colo um presente inesperado: um jovem saradão, com uma cara bonita e uma namorada linda que lhe beijava a orelha com frequência, sentado na primeira fila, resolveu fazer uma pergunta provocativa: "E você, cara, nunca fumou?". A resposta foi a minha redenção: "Olha, meu filho, quando eu tinha a sua idade, arranjei uma namorada que era quase tão bonita quanto a sua (era de se ver o deslumbramento da moça com o comentário!). Naquela época, eu não sabia onde pôr as mãos, e comecei a fumar. Assim que descobri o que fazer com elas, parei de fumar". A julgar pelas risadas, ele não devia ser o mais querido da turma, e isso talvez tenha contribuído para a quebra do gelo, que instantaneamente instalou a promissora condição de parceiros confidentes. Foi a sensação que tive nos 40 minutos de perguntas que se seguiram. É mais fácil tirar dúvidas com quem se parece com a gente.