O mundo seria insuportavelmente monótono se as pessoas fossem iguais. Mas, como felizmente são diferentes, os protocolos de felicidade não podem ser estereotipados como propõem os livros de autoajuda que, mais do que tudo, ajudam os autores.
Isso pressuposto, vamos excluir da discussão que pretendemos os conformados e os pacíficos, esses que só querem ganhar seu dinheirinho para garantir estabilidade e a volta sossegada para casa depois de mais um dia de trabalho monótono que copiou ontem e se repetirá amanhã. Fixemo-nos, então, nos inquietos, os que consideram que a vida que vale a pena não prescinde da sensação de que ela só se justificará se for alimentada pela adrenalina de quem busca, incessantemente, expandir os seus próprios limites.
Esses tipos, rotulados de sonhadores ou delirantes, sofrem o mais pobre dos bullyings: o promovido pela inépcia dos que não suportam que outros façam mais do que a sua própria mediocridade limitou. Mesmo respeitando a atitude dos que pensam que viver e durar são a mesma coisa, fico constrangido de ver jovens acomodados e pachorrentos, desperdiçando aquela idade em que se devia ambicionar a reforma do mundo e, mesmo não conseguindo, morrer de velho com a convicção intacta de que era possível. E que só por falta de sorte não deu, mas foi por pouco!
Em mais de uma oportunidade, durante nossos congressos, me senti desconfortável ao ver simpósios sobre procedimentos de alta complexidade com salas vazias porque, ao lado, os jovens se acotovelavam no anfiteatro maior para ouvir as novidades sobre técnicas que não têm o que mudar de tão prosaicas que são.
Refiro-me ao médico desta geração que odeia desafios e se satisfaz em fazer coisas simples, que combinem preguiçosamente facilidade de execução, baixo risco e remuneração adequada.
É evidente que a alta complexidade é mais exigente e mais árdua. É certo que a pobreza das nossas instituições e o numeroso time dos que puxam para trás vão fazer a sua trajetória ainda mais difícil. Mas pense na alegria de conseguir o que os miúdos de espírito ironizavam. Não tenha medo de sentir medo, e quando isso ocorrer, e ocorrerá, corra para frente, porque é para lá que vão os que conquistam o direito de sentir orgulho por ter vivido.
Claro que, se vivemos mais, ao olharmos para a frente, teremos menos horizonte, mas em compensação, olhando para trás, há uma longa estrada, que tendo sido percorrida com gana e devoção, ensinou tantas coisas, boas e más, que só um ingênuo e pretensioso não pararia para ouvir. Então, ouça: a vida sem desafios é a antecipação da aposentadoria.
É uma passagem sem escalas da juventude para a senilidade. Se você é jovem, acredite: mesmo o velho mais festejado por ter sido bem-sucedido morre de inveja e trocaria tudo o que conquistou pela sua idade e a chance maravilhosa de fazer tudo outra vez. Mais e melhor. Se não acreditar nisto, comece a ser tolerante com seus amados porque eles também terão dificuldade de disfarçar o desconforto do convívio com sua apatia. E se quiser ser respeitado com os netos no colo, esqueça as desculpas e arranje uma vida que resulte, ao menos, em boas histórias para contar.