Desde a primeira década do século 20, quando começou-se a projetar a expectativa de vida da população, percebeu-se que, a cada cinco anos, este índice vai aumentando numa curva de crescimento cuja inclinação pode variar de países e continentes, mas é sempre ascendente.
Isso garantido, com a perspectiva de um número crescente de centenários brigando por espaço no planeta superpovoado, parece mais do que adequado começarmos o debate de como preparar o terreno para que as futuras gerações de longevos não se transformem em estorvos para a sociedade e, antes disso e mais triste, para as suas próprias famílias.
Com limitações inevitáveis e dependências previsíveis, essas levas de anciãos com graus diversos de saúde e lucidez precisarão ser alocadas em funções que lhes mantenham ocupadas e livres da sensação de inutilidade, esta que é, de longe, a condição mais degradante a que se possa expor uma criatura que um dia, de pele lisa e raciocínio rápido, sentiu-se muito importante na vida.
Na contramão das conquistas médicas que asseguram essa longevidade festejada, pouco ou quase nada tem sido anunciado como avanço na busca da preservação cerebral. Os interesses imediatistas da sociedade moderna ainda agravam a perspectiva futura na medida em que, conforme publicação recente, se investe cinco vezes mais em pesquisas de terapias de embelezamento e de deficiências eréteis do que em prevenção da doença de Alzheimer.
A perspectiva de tempo ganho de vida a ser vivida sem qualidade é, sem dúvida, a maior ameaça aos milhares de candidatos a uma auspiciosa prorrogação de prazo que era impensável há poucas décadas. Dar sentido a esse ganho é assegurar que todas as pessoas possam envelhecer sem a decadência biológica precoce, que é uma linha divisória entre gozar a vida e desejar a morte.
Até agora, o que mais fazemos é segregar nossos doces velhinhos, agrupando-os em lares geriátricos, alguns extremamente qualificados e zelosos, oferecendo atendimento de enfermagem diário e médico quando necessário, além da companhia de contemporâneos solidários em limitações, fantasias, memórias, rabugices, desesperança, saudade e solidão.
A Madre Tereza contou que, ao visitar um desses asilos luxuosos, ficou impressionada porque, apesar de alojados numa sala de estar, equipada com TV e recursos de multimídia, todos mantinham um olhar meio triste, focado na porta de entrada. Questionada, a diretora meio constrangida, admitiu: "A maioria deles está aqui há muito tempo, e ninguém mais vem visitá-los, mas este olho na porta parece ser o jeito que eles encontraram de dizer que nunca vão desistir de esperar que seus amados reapareçam".