Cumpriu-se, há pouco, o ritual para consumar a pior farsa jamais registrada na história da Justiça brasileira: a anulação das quatro ações penais conta Lula, inclusive aquela em que ele foi condenado, já em terceira instância e por nove magistrados diferentes, por corrupção e lavagem de dinheiro.
Por causa dessa farsa, comandada pelo ministro Edson Fachin e apoiada por todo o Supremo Tribunal Federal (STF), fizeram desaparecer na atmosfera tudo o que havia contra Lula na área criminal — provas, depoimentos, confissões espontâneas de crimes por parte de testemunhas, delações premiadas.
Fachin e os colegas decidiram que Lula não deveria ter sido julgado em Curitiba — e pronto, o problema ficou resolvido para ele. Com isso, tudo o que a Justiça brasileira fez no seu processo — um trabalho que foi considerado perfeitamente correto durante cinco anos — acabou sendo jogado no lixo.
Se não podia ser em Curitiba, tinha de ser onde, então? Nem os ministros sabem — a única coisa que são capazes de dizer é que em Curitiba não valeu. Uns acham que os processos, agora, devem recomeçar do zero em Brasília; outros acham que deve ser em São Paulo. Há, enfim, os que conseguiram o prodígio de não achar nem uma coisa nem outra; no final da sessão plenária (“virtual”, é claro) que julgou o caso, decidiram simplesmente que não têm a menor ideia sobre onde tem de ser julgados os crimes de que Lula é acusado. Em Marte, talvez?
Acabou ficando em Brasília, mas é só uma piada — tanto faz o lugar no novo julgamento, pois esse julgamento não vai acontecer nunca.
A fraude praticada pelo STF contra as noções mais elementares de Justiça não absolve Lula de nada; sua “inocência” não foi “reconhecida”, como ele tem dito, e nem “a Justiça” está dizendo que houve um “erro judiciário” — ou que ocorreu o que se chama de “injustiça”.
A única coisa que aconteceu de fato, no mundo das realidades, é que os ministros do STF livraram o ex-presidente dos processos que estavam travando a sua carreira política — e, dessa forma, o transformaram no seu candidato pessoal à presidência da República.