J. R. Guzzo

J.R. Guzzo

O jornalista começou a carreira como repórter em 1961 na Última Hora, de São Paulo. Cinco anos depois, passou a atuar no Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e em Nova York e, durante 15 anos, diretor de redação da revista Veja. Nos últimos anos, trabalhou como colunista em Veja e Exame. Atualmente, escreve no jornal O Estado de S. Paulo e na Gazeta do Povo. Vai escrever semanalmente em ZH.

Gesto mal interpretado
Opinião

Primeira fake news gigante do ano é a “saudação nazista” de Musk

Na verdade, o que os exércitos de “enfrentamento” à falsidade fazem é absolutamente o contrário

J.R. Guzzo

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ANGELA WEISS / AFP
O que Musk fez foi dizer: “My heart goes out to you”, colocando a mão direita no seu coração e abrindo o braço para oferecê-lo ao público

É difícil atualmente que passe um dia inteiro sem a exibição de mais uma prova maciça de como a gritaria do mundo oficial contra as fake news é a maior fake news de todas. Na verdade, o que os exércitos de “enfrentamento” à falsidade fazem é absolutamente o contrário. Apresentam-se como os vigilantes contra as mentiras e a desinformação, mas são os que mais mentem e mais desinformam. 

Mais hipócrita e mal-intencionada é a ficção de que a imprensa considerada “profissional” e “séria” é o lugar em que o público recebe as “informações verdadeiras”, enquanto as redes sociais são “usadas” para difundir as “informações falsas”. O que está acontecendo é exatamente o oposto: a imprensa, com raras exceções, é a grande usina mundial para a produção de fake news, e as redes sociais são o único meio que o público tem para se defender delas. A mídia mente, e as redes corrigem. 

O presidente do Supremo nos deu uma aula magna sobre a impostura que é a 'regulamentação' das redes, tal como demonstrado acima

É precisamente isso que acaba de acontecer com a primeira fake news gigante do ano: a notícia e a foto, segundo as quais Elon Musk fez uma saudação nazista nas festividades da posse do presidente Donald Trump. O que Musk fez foi dizer: “My heart goes out to you”, colocando a mão direita no seu coração e abrindo o braço para oferecê-lo ao público — uma tradição americana mais velha do que andar para frente. 

A imprensa “profissional” e “séria” foi quem colocou essa mentira em circulação, com a agravante de fingir que estava apenas mostrando um “gesto polêmico”. As redes sociais é que desmentiram a falsificação na hora, comprovando com as próprias palavras ditas por Musk na ocasião (e ocultadas pela mídia) que não tinha havido gesto nazista nenhum.  

É inevitável, num momento desses, que apareça o ministro Barroso para mais uma exibição pública. Fez isso, é claro, num palco iluminado do primeiríssimo mundo, em mais um desses eventos patrocinados por bilionários com causas em apreciação no STF — foram para a Suíça, agora. Lá, o presidente do Supremo nos deu uma aula magna sobre a impostura que é a “regulamentação” das redes, tal como demonstrado acima. 

O Brasil precisa, segundo Barroso, da “imprensa que confere fatos e separa fato de opinião, a imprensa que tem um papel importante, que é criar um conjunto de fatos comuns sobre os quais as pessoas formam a sua opinião”. Em que mundo ele vive? Em que momento a imprensa checou alguma coisa no gesto de Musk, ou de qualquer coisa que Lula diga, ou no big bang permanente de mentiras que move o presente governo? A única coisa certa que disse, sem querer, foi que a sua imprensa “cria fatos”. 

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