Sirenes de alarmes antiaéreos marcaram a caminhada que Joe Biden fez pela área central de Kiev (Ucrânia) na manhã desta segunda-feira (20), na primeira visita a uma região de guerra que ele fez em seu mandato. O momento, repleto de tensão, foi o cartão de apresentação dos ucranianos, que vivenciam na pele o mais cruento conflito na Europa desde a II Guerra Mundial.
O presidente norte-americano viajou de trem desde a Polônia, de surpresa, como convém a um chefe de Estado da sua importância e muito visado. Biden renovou pessoalmente ao seu colega ucraniano Volodimir Zelensky a promessa de novas remessas de armas. Para contrariedade do russo Vladimir Putin, que há um ano repete ameaças, caso o Ocidente continue a apoiar a Ucrânia, que ele considera como uma extensão da Rússia.
A visita de Biden contrasta com o posicionamento histórico da diplomacia brasileira, no caso desta guerra. Tanto Jair Bolsonaro (PL) como seu arquirrival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se equilibram na retórica da necessidade de uma negociação. Nenhum deles condenou a Rússia, com todas as letras, por invadir a Ucrânia. A realidade é que, como parceiros comerciais, os russos fazem valer sua geopolítica mundo afora. Isso vale tanto para as relações com chineses e asiáticos em geral (os maiores parceiros da Rússia no momento) quanto com os brasileiros.
Mesmo o apoio dos EUA não é tão incondicional como Biden gostaria. No front interno norte-americano, o recém-empossado presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Kevin McCarthy, repetiu que o seu partido não passará um "cheque em branco" à Ucrânia. O oposicionista quer que o Congresso se concentre em questões "mais próximas de casa".
McCarthy está sintonizado com cidadãos comuns. Uma nova pesquisa da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research acaba de mostrar que o apoio popular à ajuda à Ucrânia está diminuindo nos Estados Unidos, com 48% dos americanos a favor do envio de armas, abaixo dos 60% de maio passado.
Em resumo: menos da metade dos norte-americanos apoia envolvimento na guerra europeia, mesmo que indireto. E isso que não sofrem na pele qualquer represália dos russos. Pior é a situação dos europeus. Embora majoritariamente favoráveis a ajudar a Ucrânia, os governos da Europa Ocidental têm sofrido com boicotes a fornecimento de gás russo. E a médio prazo as matérias-primas que sustentam a indústria europeia também vão escassear. É o amargo custo geopolítico da guerra. Putin provavelmente aposta que o conflito ucraniano vai virar paisagem para europeus e norte-americanos, contribuindo para que ele tente a vitória. No mínimo, transformando grande parte do território da Ucrânia num apêndice da Rússia.