Em 1992, as ruas das principais cidades angolanas foram sacudidas por bombardeios. Foi a retomada da guerra civil, que já acontecia desde 1975, em sua etapa mais cruenta. Os opositores da Unita não reconheceram a derrota nas urnas para os governistas do MPLA e tentaram tomar o poder, à força. O que se seguiu foi um banho de sangue. E um gaúcho estava lá, como observador militar da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na época capitão do Exército, Valério Stumpf Trindade ficou mais de meio ano em Angola, em Luena, vendo o suficiente de mutilados, feridos e desgraças para saturar uma vida inteira. Retornou estafado ao Brasil, mas não teve descanso. No semestre seguinte, em julho de 1993, foi para a Bósnia, então o lugar mais bombardeado do mundo, na guerra civil que se seguiu ao fim da Iugoslávia. Foi também em nome da ONU.
As experiências o credenciaram. De volta ao Brasil, Stumpf (como é conhecido) virou referência em guerras modernas e seguiu carreira nas Forças Armadas. Provavelmente é o militar da ativa, no Brasil, com mais vivência em áreas de conflito. Embora milhares tenham participado de missões de paz da ONU no Haiti, Timor Leste e Angola, ele fez parte de forças precursoras das Nações Unidas, quando não havia cessar-fogo. Testemunhou o auge das guerras civis.
É o atual Comandante Militar do Sul, chefe das tropas terrestres no Sul do Brasil. Mas nessa sexta-feira (13) transmitirá o cargo no CMS para o general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, cujo nome de guerra é Soares.
Stumpf voará alto. Vai para Brasília, chefiar o Estado-Maior do Exército, que coordena as principais atividades dessa força armada. Será o número 3 da hierarquia na instituição (em antiguidade), mas na prática o número 2, o operacional.
É o maior cargo já exercido por Stumpf, 62 anos, gaúcho de São Gabriel, filho de um coronel do Exército.
O general já esteve no governo, por um breve período. Em 2018 foi indicado como secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que chefia a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e cuida da segurança presidencial. Na época, o chefe do GSI era o general Sergio Etchegoyen.
Stumpf permaneceu no GSI ainda durante o primeiro semestre do governo Bolsonaro, sob a chefia do general Augusto Heleno, retornando depois para o Exército. Onde acaba de alcançar um cargo-chave, em que será responsável pelo planejamento das ações da força.