O gaúcho Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz poderia ter escolhido um dos rumos de sua tradicional família, a diplomacia ou a carreira militar. Fluente em vários idiomas, chegou a estudar para as provas no Instituto Rio Branco. Numa guinada, acabou cursando Direito, atuou no Ministério Público e depois virou desembargador federal, chegando a presidir o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) durante a fase áurea da Lava-Jato. Mas o gosto pela política internacional, que vem de berço, se manteve. Nesta terça-feira (12), deu vazão a uma prestigiada palestra a respeito da polêmica do momento, intitulada "Geopolítica e Direito: uma abordagem à luz da Guerra da Ucrânia".
Prestigiada porque entre os espectadores estavam promotores, procuradores, juízes, delegados de Polícia, ex-comandantes da Brigada Militar e generais, entre os quais Edson Leal Pujol, que até o ano passado comandava o Exército. A palestra foi na sede do Tribunal da Justiça Militar, em Porto Alegre, a convite do presidente da instituição, desembargador Amilcar Fagundes Macedo, outro entusiasta do tema. E assunto é que não faltou.
Thompson Flores deu uma verdadeira aula sobre história eslava. Falou das ocupações da Ucrânia ao longo dos séculos por poloneses, russos, alemães e novamente os russos. Lembrou que as invasões territoriais naquela região costumam começar da mesma maneira (avassaladoras) e terminar em desastres estratégicos, pela natureza hostil do clima e resistência dos invadidos, como aconteceu com os franceses de Napoleão e os alemães de Hitler. E ressaltou que não se pode confundir os russos com seu presidente, Vladimir Putin, dizendo que o povo costuma ser muito superior a certos governantes autoritários.
— Acho que a situação atual da Rússia se aplica à definição feita por um general francês, no início do século 19, sobre as guerras napoleônicas: o povo francês é culto, governado por um líder inculto. Putin vinha de anexações que deram certo (Georgia e Crimeia), agora enfrenta resistência inesperada. Se suas tropas se retirarem de súbito, ele tem tudo para ser derrubado do poder — interpreta Thompson Flores Lenz.
O palestrante considera que a reação europeia às ameaças à Ucrânia foi insegura, similar à ocorrida em 1938 quando Adolf Hitler invadiu a então Tchecoslováquia. O líder nazista fez isso com o argumento de proteger uma minoria alemã que vivia em território tcheco — algo similar ao que alega agora Putin ao invadir a região do Donbass, fortemente povoada por ucranianos de origem russa. Em comum, as regiões invadidas pelos alemães em 1938 e pelos russos em 2022 têm a riqueza mineral.
Thompson Flores Lenz criticou a demora europeia e norte-americana em reagir e a comparou com situações vivenciadas por dois líderes mundiais, o britânico Winston Churchill (que barrou o avanço de Hitler) e o norte-americano John Kennedy (que fez os russos retirarem mísseis nucleares de Cuba).
— Não se pode confiar na palavra de tiranos. E isso se aplica ao caso atual da invasão da Ucrânia — define o palestrante.
Questionado se acha que Putin pode ser julgado, Thompson Flores foi polido e mencionou que "virá o dia do julgamento dos crimes de guerra na Ucrânia". Ele considera que o líder russo está isolado, perdendo popularidade e ainda poderá ser julgado. O estudioso de geopolítica crê que Putin "só teve o atrevimento" de invadir território ucraniano porque líderes da União Soviética jamais foram julgados por crimes cometidos durante suas ditaduras.
— Faltou aos comunistas totalitários russos, como Stálin, um julgamento como o de Nuremberg para os nazistas. Pelo fuzilamento de pessoas que tentaram pular o Muro de Berlim para fugir do comunismo, por exemplo. Talvez a invasão de agora não ocorresse, se a humanidade tivesse dado esse passo — concluiu Thompson Flores, sob aplausos.