Mais de 1,8 milhão de brasileiros receberam de forma irregular o auxílio emergencial entre setembro de 2020 e janeiro de 2021. A conclusão é da Controladoria-Geral da União (CGU), após auditoria que analisou apenas o repasse de parcelas de R$ 300 desse benefício, destinado a pessoas que ficaram em vulnerabilidade social durante a pandemia.
Como se sabe, o auxílio emergencial começou com parcelas de R$ 600 mensais, depois o valor diminuiu para R$ 300. É nesse último bloco que foram analisados repasses. O montante liberado na época foi de R$ 67,6 bilhões, para 57 milhões de brasileiros.
O cruzamento de dados da CGU aponta que R$ 808 milhões desse total foram distribuídos a pessoas que não tinham direito, que totalizam 1,8 milhão de beneficiários (3,2% dos contemplados com as parcelas de R$ 300). Outros milhões de brasileiros receberam irregularmente o benefício referente às parcelas de R$ 600, anteriormente.
Entre os beneficiados com os R$ 300 irregulares estão mais de 15 mil mortos, 38 mil presos em regime fechado e 15 mil brasileiros que residem no Exterior. Como pode isso?
É que os benefícios são dados a quem pede e só depois são fiscalizados, apontam especialistas no assunto. Esse tipo de liberalidade – que custa milhões aos cofres públicos – foi mostrado em reportagens do Grupo de Investigação da RBS (GDI). Mostramos que empresários e funcionários públicos gaúchos levaram o auxílio, embora não se enquadrem no programa.
Menos mal que, alertada, uma parcela dos irregulares devolveu o dinheiro. Dos R$ 808 milhões distribuídos irregularmente, R$ 44 milhões foram devolvidos, celebra a CGU. Mais por receio das consequências do que por cidadania, penso eu. Que seja. O ideal era que o controle fosse feito antes do repasse das verbas, mas estamos no Brasil.