O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, sabe muito bem o que diz o Regulamento Disciplinar do Exército: é vedado ao militar da ativa participação em manifestações político-partidárias. Isso é ensinado aos recrutas quando chegam ao quartel, aos 18 anos. O objetivo, desde que existem as Forças Armadas, é evitar contaminação da tropa com as apaixonadas disputas pelo poder.
Pazuello subiu de ato pensado no carro de som, para abraçar Jair Bolsonaro, na manifestação política no Rio no último domingo (23). Sem máscara. Foi saudado como herói pelos bolsonaristas, por ter defendido o presidente de fio a pavio, nos depoimentos na CPI da Covid. O presidente o chamou de "nosso gordinho".
É muito provável que a intenção de Pazuello tenha sido testar limites. Ver até onde o Exército terá coragem de punir um integrante tão proeminente do projeto político que colocou tantos militares no poder. O “meu Exército”, como chama Bolsonaro. O presidente não brinca quando fala em “meu”, tanto que removeu o ministro da Defesa quando imaginou que não lhe era tão fiel.
O ato de Pazuello desagradou generais de grande prestígio. O gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, de longe o mais experiente em guerras de verdade no oficialato das Forças Armadas (hoje na reserva), chamou a junção de Bolsonaro e Pazuello num mesmo palanque político de “irresponsável e perigoso”. Outro general, Francisco Mamede de Brito Filho (ex-comandante das tropas brasileiras no Haiti), exigiu “resposta enérgica para a atitude afrontosa do transgressor”. Em solidariedade ao pai, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chamou esses generais de “petistas” (embora tenham apoiado a eleição de Bolsonaro desde que ele se lançou candidato à Presidência).
Caso o Exército não tome uma atitude, será intimado a isso pelo Superior Tribunal Militar (STM). As saídas possíveis são três: Pazuello vai para a reserva, e a punição perde efeito (porque ela só se reflete na carreira do militar da ativa); Pazuello é mandado para a reserva pelo mesmo motivo (seria uma punição); ou Pazuello é punido, sem ir para a reserva. A chance de ser preso, como acontecia no passado, é próxima a zero – e não há intenção nas Forças Armadas de dar ao general a áurea de martírio. Caso continue na ativa, não será surpresa se Pazuello for recompensado, por sugestão do presidente, com cargo de adido em alguma embaixada de seu agrado.