Corre entre contabilistas uma estimativa de que mais de 130 mil gaúchos serão chamados pela Receita Federal por serem suspeitos de ter retirado o auxílio emergencial sem se enquadrarem nas regras exigidas pelo programa federal. Eles teriam ultrapassado o teto de vencimentos de R$ 22,9 mil no ano passado – o benefício é destinado a quem recebeu menos do que esse valor.
Ainda não há confirmação oficial, mas 130 mil é um bocado de gente. Seriam todos criminosos? Claro que não. Desde que foi anunciado, o auxílio emergencial dá margem a muita confusão entre potenciais beneficiários. Ano passado, junto com Giovani Grizotti, fiz várias reportagens sobre fraudes nesse tipo de benefício. Desistimos de expor alguns personagens encontrados justamente porque eles ignoravam, na realidade, que sua situação não os credenciava a receber o dinheiro governamental.
Alguns disseram que estavam endividados e, por isso, acreditavam ter direito à verba de R$ 600 mensais. Outros eram funcionários públicos e não sabiam que servidores públicos de qualquer esfera estão proibidos de sacar o benefício.
Mas as reportagens se concentraram em pessoas que, sim, sabiam muito bem que o auxílio emergencial é destinado a carentes. GZH mostrou gente com Mustang e lancha, que recebeu o benefício. Outros viviam no Exterior, sustentados pelos pais, e não hesitaram em tirar o auxílio. Uma moça até tinha casamento marcado com festa em outro país, mas sacou os R$ 600. Pode?
Não pode. A Receita deve ter cruzado dados e encontrado milhares que não se enquadram nas regras do programa. Mas a maioria absoluta não agiu por dolo. Agarrou uma oportunidade, porque precisava, mesmo que no detalhe não se enquadre nos quesitos governamentais. Com esses, o Leão deve ter boa vontade. É uma irregularidade fiscal. Não são criminosos.