A pandemia de covid-19 teve pelo menos um efeito colateral benéfico: atrapalhou também os negócios dos criminosos. Só que não muito, em se tratando de crime organizado internacional.
Levantamento feito pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP, entidade formada por empresários brasileiros) demonstra que o Brasil perdeu R$ 287,9 bilhões para o mercado ilegal em 2020. O valor é a soma das perdas registradas por 15 setores industriais (R$ 197,2 bilhões) e a estimativa dos impostos que deixaram de ser arrecadados (R$ 90,7 bilhões) em razão dessa ilegalidade. Essa média foi feita com base num percentual médio de 46% de taxação sobre cada produto, mas alguns itens, como o cigarro, pagam imposto de até 90%.
A pandemia fez esse setor do crime recuar? Sim. Um pouquinho. O balanço mostra uma queda de 1,2% em relação a 2019, ano em que as perdas para o mercado ilegal alcançaram R$ 291,4 bilhões. A exceção é no setor de aparelhos celulares, em que houve aumento.
A redução, mesmo que pequena, é efeito das medidas de restrição adotadas para conter a propagação do vírus – como o isolamento social, que deixaram as ruas mais vazias, além do comércio fechado, o bloqueio de fronteiras, bem como a alta do dólar e o aumento das apreensões nas estradas e rodovias do país. O cigarro, um dos setores mais afetados pelo contrabando, por exemplo, perdeu R$ 14,2 bilhões no ano passado. Em 2019, foram R$ 15,9 bilhões. Ainda assim, cerca de 63,4 bilhões de cigarros ilegais circulam no país, conforme estimativa do FNCP.
Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade, admite que a pandemia afetou todas as atividades econômicas, legais e ilegais, mas alerta:
— Devemos estar atentos para a retomada do mercado e fortalecer as medidas de combate ao ilegal, incentivando o mercado legal, que investe no país e gera empregos.
Entre as medidas que os empresários mais reivindicam está a redução de impostos, para competir com piratas que sonegam tudo.
E o Rio Grande do Sul, como está? Um levantamento do IBGE mostra que, em 2019, foram 50,8 bilhões de cigarros produzidos no país (a maior parte, em território gaúcho). Em 2020, durante a pandemia, foram industrializados 57,7 bilhões de cigarros no país. Os industriais atribuem o aumento a um recuo dos falsificadores. Já outros números disponíveis, ainda de 2019, são desanimadores: 49% de todos os cigarros que circulam no Estado são contrabandeados do Paraguai. Isso significa R$ 818 milhões movimentados pelos piratas naquele ano. Afinal, o cigarro ilegal no Estado custa em média R$ 3,38, enquanto o preço mínimo estabelecido pelo governo para o cigarro legal no Brasil é de R$ 5.
Os levantamentos são feitos pelo FNCP desde 2014.