Seis anos após sua primeira fase, a Lava-Jato continua a ser a maior ação anticorrupção já realizada no Brasil, embora a escolha por alvos de segundo e terceiro escalões tenha tirado parte do seu brilho. Reportagem do colega Carlos Rollsing, publicada em GaúchaZH, mostra que a operação patina mais por problemas políticos do que técnicos. É aí que cabe dar nome aos bois, como se dizia no tempo das minhas falecidas avós.
Três projetos de poder se chocam em torno da Lava-Jato. Um deles se opôs à operação desde seu início, até por ter sido o mais atingido: o de Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores. Lula não pôde ser candidato em 2018 porque estava condenado em duas instâncias pela Lava-Jato. Tem outros julgamentos pendurados e o andar da carruagem indica que pode ter nova candidatura impugnada em 2022 – isso se o PT insistir com seu nome. Até por isso, o ex-presidente declara a quem quiser ouvir: seu maior objetivo é desmascarar a Lava-Jato e o ex-juiz Sergio Moro, que o condenou. Mais ainda do que fazer oposição a Jair Bolsonaro, seu antípoda na política, aquilo que os petistas consideram tudo de ruim.
Jair Bolsonaro, por sua vez, é lava-jatista juramentado, mas também fez do ex-aliado Moro um adversário formidável. O presidente caminha sobre a navalha: grande parte dos votos obtidos em 2018 (talvez a maior parte) foi de admiradores da Lava-Jato. Terá de dosar suas críticas, atacar a pessoa e não o projeto.
A propósito, recebi nesta quinta-feira (6), numa corrente, um e-mail impressionante e que mostra o calibre da munição que será despejada contra Moro. Diz que o ex-ministro foi demitido porque o presidente descobriu que ele recebia suborno para não levar adiante o inquérito que investiga o atentado a faca contra Bolsonaro na campanha da última eleição. Prova? Nenhuma, mas o texto está sendo espalhado indiscriminadamente na internet.
E Moro? Cada vez mais candidato, a depender de seus milhões de admiradores, embora ele negue (pelo menos uma coisa na política parece ter aprendido: não colocar a carroça na frente dos bois). Ele é a própria personificação da Lava-Jato e, por isso, tem sido alvo de críticas pesadas à direita e à esquerda do espectro político. Tem tudo para ser o anti-Bolsonaro e o anti-Lula, se sobreviver ao tiroteio.
Viúvos, mesmo, estão procuradores e policiais que tocaram a Lava-Jato nesses anos todos. Apesar de cansados, são saudosos dos tempos em que a operação era quase unanimidade e não um instrumento eleitoral, um espólio disputadíssimo no próximo pleito presidencial.