A Lava-Jato até agora não tinha reconhecido autenticidade nas conversas vazadas à mídia a partir da interceptação de um hacker. A estratégia dos procuradores da República que atuam na operação era questionar a veracidade dos diálogos trocados via aplicativo Telegram, tanto entre membros do Ministério Público como desses com o juiz Sergio Moro.
Não mais. O monolito de defesa da força-tarefa do Ministério Público Federal na Lava-Jato foi quebrado por uma procuradora da República que atua na operação, Jerusa Viecili. Ela tuitou na noite de terça-feira (27) um pedido de desculpas por ironias que fez sobre a morte de Marisa Letícia, mulher de Luiz Inácio Lula da Silva (preso pela Lava-Jato) e do neto dele, Artur.
Na ocasião da morte de Marisa Letícia, a procuradora se manifestou num grupo de Telegram usado pelos operadores da Lava-Jato: "Querem que eu fique pro enterro?"
Quando o neto de Lula morreu, Jerusa compartilhou no grupo a notícia e desdenhou: "Preparem para nova novela ida ao velório."
Na terça-feira (27), Jerusa admitiu o mau gosto e tuitou: "Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula".
Ao fazer isso, Jerusa torpedeou a estratégia dos colegas de Lava-Jato e de Moro, de não reconhecer como autênticos os diálogos divulgados à mídia por um hacker. A procuradora ainda tentou minimizar a força do seu pedido de desculpas, ao tuitar horas depois um complemento, no qual afirma que "uma mensagem não autentica todo o conjunto...é impossível recordar de detalhes de 1 milhão de mensagens em 5 anos intensos".
Tarde demais. O pedido de desculpas de Jerusa ganhou picos de audiência no Twitter e teve 25 mil curtidas. Já a ressalva dela, horas depois, teve pouco mais de mil curtidas. Entre operadores do Direito começa a crescer a sensação de que a admissão do erro mostra que a Lava-Jato, apesar do muito que fez contra a corrupção, se deixou contagiar por paixões político-ideológicas. Com uma passionalidade reprovável em servidores que devem zelar pela isenção dos julgamentos.