Cautela à parte, agora já se pode comemorar como tendência a redução nos homicídios no Rio Grande do Sul. Os números divulgados pela Secretaria da Segurança Pública apontam menos de mil assassinatos no primeiro semestre deste ano, algo que não acontecia desde 2011.
Não é pouco, num país que é vice-campeão em homicídios na América do Sul, como o Brasil. As estatísticas parecem apontar para o declínio de um ciclo sangrento no Rio Grande do Sul, após diversos anos de crescimento em mortes. O pico dos assassinatos foi em 2017, com 1.610 no primeiro semestre. De lá para cá diminuiu, sendo que do ano passado para 2019 a queda foi de 24%. Em Porto Alegre a redução é ainda maior, 45%.
O que está acontecendo? Feliz do analista que tem de se debruçar sobre números positivos. As autoridades gostam de dizer que os investimentos em concurso de policiais e em equipamentos (viaturas, armas) propiciaram condições para essa conjuntura bem-sucedida. Tudo indica que sim. Mas seria só isso? Dois outros fatores parecem ter contribuído para o fenômeno. Um deles é a transferência maciça de líderes de facções para prisões de segurança máxima, em outros Estados. Isso prejudicou a comunicação interna nas quadrilhas, que é verticalizada (chefe decide, os gerentes cumprem...ou, no máximo, uma cúpula decide e os subordinados executam). Menos informações, menos crimes articulados.
O outro fator é que as próprias facções parecem ter percebido que assassinatos não são bons para os negócios. Os esquartejamentos de índole terrorista, que tiveram auge há cerca de dois anos, agora rarearam. Criminosos ligados às principais facções do banditismo gaúcho já confirmaram que há política de respeito a territórios implementada entre três de quatro facções.
Há dúvidas entre alguns operadores da segurança se a redução é mesmo tão grande. Alguns cogitam que as facções estejam desovando corpos em cemitérios clandestinos, inatingíveis pelas estatísticas. Outros lembram que lesões corporais seguidas de morte não são contabilizadas como homicídio.
O secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Junior, me esclarece que as lesões seguidas de morte nunca foram nominadas como homicídio. Nem no atual governo, nem nos anteriores. Ele assegura também que encontro de cadáver que apresente ferimento é, via de regra, considerado homicídio.
- Mas não estamos satisfeitos e os números vão melhorar ainda mais - ressalta Ranolfo.
Em sendo assim, resta torcer para que a soma de fatores continue a tornar o RS um local menos violento.