
Um dos melhores apanhados sobre questões que afligem a segurança pública no país, o Atlas da Violência, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), peca por não refletir a realidade imediata e, sim, a de dois anos atrás. Natural, num país continental, em que os dados demoram a ser compilados e nem sempre são muito confiáveis.
O estudo divulgado nesta quarta-feira (5) mostra um país com índice recorde de homicídios. Acontece que os dados são de 2017. De lá para cá alguns dos grandes Estados brasileiros registraram expressiva queda no número de assassinatos — entre eles, o Rio Grande do Sul.
No Atlas da Violência, o RS aparece com 3.316 homicídios em 2017, um crescimento de 2,8% em relação ao ano anterior. É importante ressaltar que o estudo é preciso e inclui mortes não-imediatas, como as que ocorrem após a hospitalização da vítima, como as lesões corporais e tentativas de homicídio seguidas de morte.
Pois a realidade é que, de 2017 para cá, o número de assassinatos caiu no RS. Foram2.954 ocorrências em 2017 (contabilizadas no local do crime) e 2.302 no ano passado. A redução é de 22,1% — o equivalente a 652 assassinatos a menos no Estado, no período.
E, de lá para cá, o número de homicídios vem caindo. O que aconteceu? Parece ser a mistura de três fatores. O primeiro, a transferência maciça de lideranças criminosas para penitenciárias de segurança máxima situadas em outros Estados. Ela começou a ocorrer em 2017, no auge dos assassinatos. Parece ter surtido efeito.
A segunda providência é a descapitalização das facções criminais, que tem avançado. Tanto a Polícia Civil como o Ministério Público Estadual contam com laboratórios de combate à lavagem de dinheiro, o que facilita esse tipo de investigação. Menos faturamento, menos poder para as facções. O terceiro fator é que as polícias têm recebido investimentos em viaturas e armas. Oxalá esse seja um caminho sem recaídas.