A cena grotesca da semana é a de dois fisiculturistas arrancando a placa que homenageia a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio de Janeiro no início do ano. A placa não era oficial e se sobrepunha a uma com o nome do Marechal Floriano, justificaram.
OK, não era oficial. Mas era legítima a intenção de quem colocou a placa no poste: lembrar a todos que Marielle foi executada em pleno exercício da política. Era uma das que mais denunciava grilagem de terrenos no Rio, por exemplo. A linha principal da investigação policial sobre o assassinato, aliás, é de que ela foi morta por ter incomodado grileiros protegidos por milícias formadas por ex-policiais. Fosse para se incomodar, por que os dois forçudos, candidatos nas atuais eleições, não foram limpar pichações? É que a simples menção à vereadora incomoda.
Arrancar a placa com o nome de Marielle não vai apagar a vergonha do assassinato dela continuar impune. Semana que vem completam-se sete meses da emboscada que matou a vereadora e o motorista dela.
Todas as hipóteses para o crime desembocam nas milícias, a face mais poderosa do crime organizado no Rio de Janeiro hoje. Isso porque, sob a desculpa de combater o tráfico, elas extorquem moradores nos serviços fornecidos cotidianamente: TV a cabo, telefonia, gás, proteção. Quem não paga é ameaçado.
Militantes de esquerda gostam de imaginar que Marielle foi morta porque era negra, lésbica e de esquerda. O mais provável, pelas investigações, é que não sejam esses os fatores decisivos no seu assassinato. Tudo indica que foi morta porque atrapalhou negócios que envolviam milicianos.
Seja o que for, foi um crime político — Marielle pautava seu mandato por críticas às milícias, ela inclusive foi assessora da presidência da CPI das Milícias, uma década atrás. É por isso que preocupa a demora em esclarecer o caso. Já vimos onde vão parar países onde assassinato de parlamentares vira rotina. A Colômbia e o México são exemplos. Morrem os de esquerda, os de direita, os de centro... morre a democracia. Morre a sociedade como um todo, que os elegeu.