Alguém pode se apegar ao fato de que presos tiraram fotos do churrasco, isso significa ingresso de celular no presídio e, portanto, deve ser investigado. Outros, como o juiz Sidinei Brzuska, de que entraram facas e espetos na festa dos detentos em Santa Cruz do Sul. É um problema de segurança, sim. Mas a grande questão por trás da churrascada dos detentos — como mostra a reportagem da colega Vanessa Kannenberg — é moral. Ou melhor, a imoralidade do ato.
Quando tantas famílias contam centavos para comprar a carne das ceias natalinas, presidiários fazerem festança atrás das grades soa como deboche. É com certo amargor que muita gente vê as cenas, já que a carne pode ter sido fornecida por uma facção criminosa — sinal de que dinheiro, talvez do crime, não faltou aos festeiros.
Não se trata, aqui, de defender masmorras infectas para presos. Um meio termo seria bom. Presídios não precisam ser cárceres onde o mal e a desesperança predominam, mas também não podem virar lugar para chacota.
É bom lembrar que, além da reeducação, os presos estão ali também para serem punidos por seus malfeitos. E punição não rima com churrascada, certo? O que pensa dessa festa um pai de família que chega ao fim do mês sem dinheiro para pagar as prestações do colégio do filho? Ou que teve seu salário parcelado e teve de fazer jantar magro para os parentes? Imagens desse tipo de festança só fortalecem os piores pensamentos fascistas dos cidadãos desencantados com a (in)segurança pública, ainda mais em um presídio onde se registrou fuga em massa há pouco tempo.