As cenas são repulsivas. Os sentenciados pelo Tribunal do Crime são obrigados a cavar as próprias covas. Depois têm de deitar nelas. E aí, sem qualquer remorso, os carrascos disparam contra eles. Um ainda está vivo e voltam a disparar. Para culminar, ateiam fogo a corpos, sem sequer verificar se ainda estavam moribundos.
Aconteceu em Gravataí, no século 21. Poderia ser em qualquer parte do Rio Grande no final do século 19 quando a Revolução Federalista jogou irmãos contra irmãos. Foi a chamada Guerra da Degola.
Calcula-se que, de 10 mil mortos, pelo menos mil tenham sido decapitados, no embate entre maragatos (rebeldes) e pica-paus (governistas). A crueldade era tamanha que alguns matadores, como o célebre Adão Latorre, posavam agarrados ao pescoço da vítima, com o facão pronto para o corte.
Passou-se mais de um século, os gaúchos se amansaram, as guerras ideológicas terminaram – mas os massacres continuam. Foram duas chacinas cometidas por facções criminais no último fim de semana. E, agora, essa cena de barbárie em Gravataí, com os condenados tendo de cavar seu túmulo em chão batido.
A civilização é um verniz sobre camadas de barbarismo, pensamos, quando vemos cenas assim. Na guerra da Bósnia, nos anos 1990 do século 20 – há pouco, portanto – mais de 8 mil muçulmanos foram executados em um dia, em Srebrenika.
Os sérvios decidiram eliminar todos os jovens homens e também algumas mulheres, numa região que desejavam tornar cristã para sempre. Alguns rapazes foram obrigados a cavar valas, antes de serem executados dentro delas. Quem disse que a história se repete como farsa está errado. Às vezes ela teima em copiar a si mesma nos piores exemplos. Pobre humanidade.