Os procuradores da República que atuam na Operação Lava-Jato apresentaram uma nova denúncia contra o ex-ministro José Dirceu (PT), que está preso há dois anos em Curitiba, por corrupção. O anúncio foi feito em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, justo no dia em que, a mais de mil quilômetros da capital paranaense, em Brasília, o Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para julgar um habeas corpus que pode determinar a soltura de Dirceu, o petista mais poderoso nos primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em ofício enviado ao STF, os procuradores pedem a manutenção da prisão do líder petista.
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Está deflagrada uma guerra entre duas concepções de Justiça. Em Curitiba, o núcleo da Lava-Jato se mostra inconformado com a possível libertação de Dirceu, que seria o cérebro por trás do esquema do Petrolão – o sistemático desvio de recursos da Petrobras para irrigar contas de partidos aliados dos governos Lula e Dilma Rousseff. De outro lado, em Brasília, ministros do Supremo temerosos de que a Lava-Jato tenha ido longe demais na onda de prisões se preparam para soltar o ícone petista, mesmo sabendo que ele está condenado (em dois processos) a mais de 30 anos de prisão.
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Por que a balança no STF se inclinaria a favor de Dirceu? Porque o Supremo já decidiu, tempos atrás, que o cumprimento da prisão atrás das grades (regime fechado) só deve ocorrer quando o sujeito está condenado em segunda instância. As duas sentenças aplicadas a Dirceu pelo juiz Sergio Moro ainda não foram confirmadas em segundo grau.
Dirceu é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como um dos principais líderes da Orcrim (Organização Criminosa, no jargão da Lava-Jato) que saqueou a Petrobras. A intenção dessa nova denúncia é demonstrar que ele pode voltar a comandar esquemas de corrupção em liberdade. As denúncias cairão nas mãos de Moro, que já condenou Dirceu duas vezes. É uma corrida para ver onde o ex-ministro passará o inverno: numa fria cela curitibana ou no seu apartamento paulista.