Se alguma Velhinha de Taubaté ainda tinha dúvidas sobre quem manda de fato dentro dos presídios brasileiros, essa incerteza acabou. Basta ligar a TV e assistir ao bestial espetáculo de presos matando presos, ao vivo, no Rio Grande do Norte.
A penitenciária de Alcaçuz, localizada na Região Metropolitana de Natal (RN), foi inaugurada em 1998 com foco na "humanização" - slogan de 10 entre 10 presídios. A realidade logo se impôs, com rebeliões constantes. Uma das últimas, em março de 2015, deixou as celas sem grades, arrancadas pelos detentos. O resultado é que desde então, há quase dois anos, os presos circulam livres dentro do prédio e os agentes penitenciários ficam reclusos numa espécie de bunker, próximo à portaria, conforme relatos de repórteres que estiveram lá.
Nada muito diferente do Presídio Central de Porto Alegre (rebatizado para Cadeia Pública de Porto Alegre, na última semana). Ali, nas galerias, os presos mandam. O grande diferencial, porém, é que a boa gestão da Brigada Militar (há mais de 20 anos no Central) tem impedido rebeliões e conflito entre diferentes facções de presos. Juízes também conseguem esse milagre, como Sidinei Brzuska, há anos mediando esse barril de pólvora que é o sistema carcerário gaúcho. Juntos, policiais e magistrados separaram gangues rivais e conseguiram uma espécie de paz, que vigora das grades para dentro (as ruas Porto Alegre viraram campo de batalha das máfias gestadas nas prisões).
A verdade, como diz o colega jornalista e sociólogo Francisco Amorim, é que a superloção dos presídios permitiu que as facções se capilarizassem pelo interior do Brasil. Se prende muito, mas se prende mal, o que torna as cadeias brasileiras aliadas da estruturação do crime. Amorim se refere ao fato de que traficantes formam a maior parte dos presos, quando as grades deveriam ser priorizadas para ladrões e assassinos. Seja o que for, o Brasil assiste agora, via satélite, à mais uma etapa da degradação chamada sistema prisional.
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