Formado em Química pela Universidade de Caxias do Sul, em Gestão de Produção Industrial pela Uninter e Sommelier Internacional, André Donati acaba de adicionar uma descrição ao currículo profissional: foi eleito enológo do ano pelos colegas da Associação Brasileira de Enologia.
Enólogo-chefe, responsável técnico e gerente-geral da Vinícola Campestre, em Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, ele acumula mais 20 anos de experiência na atividade. E recebeu a notícia da escolha na Itália, onde realizava uma imersão de qualificação.
Em entrevista ao Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha, neste domingo (03), ele falou sobre a conquista e deu dicas aos consumidores. Confira trechos da conversa, e a entrevista completa logo abaixo.
Qual o papel do enólogo e por que esse profissional é tão importante no reconhecimento da produção brasileira?
Tudo está inicialmente em uma paixão: ser enólogo não é só a degustação do vinho e, sim, desde o contato com o solo ou com o pequeno agricultor ou com a produção própria da uva e conduzir essa matéria-prima, para a elaboração dos vinhos e fazer toda uma gestão de processo junto com a equipe e com algo que a gente traz da natureza. Porque, na verdade, o vinho é um ser vivo, e nós, enólogos, só fazemos a condução. Com a melhoria da tecnologia e do conhecimento, com a equipe e todo o contexto da vitivinicultura. É uma paixão, algo que vem do coração, do sangue, algo diferente. E isso também é ser enólogo.
É da cabeça do enólogo que saem as inovações para os rótulos de cada vinícola?
Também da cabeça do enólogo. Conduzimos isso desde a uva, a matéria-prima para a partir daí almejar algo distinto. Tem todo um planejamento desde o cultivo até os índices, para chegar em uma opção de colocar ou não na barrica. Enfim, faz todo um contexto para chegar e sim, um dos contribuintes é o enólogo com sua equipe, com a gestão da empresa.
O enólogo imprime um traço autoral também nesses rótulos?
Sim, tem a ver com a particularidade de cada enólogo, o perfil, isso imprime muito. Não só no rótulo, mas no produto em si e todo o viés dentro da empresa, dentro do que quer ser seguido. E sempre considerando o consumidor que queremos atingir.
E qual o perfil do enólogo André?
Eu amo o que faço, a minha profissão me dá gratas surpresas e coisas boas. Uma delas é o enólogo do ano. Além disso, conduzo toda uma equipe de enólogos na Vinícola Campestre como se fossem meus filhos, isso que é gratificante. É com alegria, vontade, com gosto. Não tem dia ruim, as coisas só são boas porque é alegre, vem do coração, é da paixão, isso é o André.
Quando se fala de vinho, sempre se tem aquela premissa de que o bom é o seco, mas um dos rótulos da vinícola há 10 anos o mais vendido no Brasilé suave...
São 10 anos consecutivos. Quando me pedem exatamente qual é o melhor vinho, (digo que) é aquele que eu gosto, indiferente se é de mesa, fino, tinto, branco. É o que eu gosto, que me dá prazer. Hoje, o consumidor brasileiro gosta um pouco mais de vinho, mais docinho. O perfil do enólogo é um, mas a gente tem que entender o que o público gosta também. Isso é mais importante, e é legal ser enólogo por essa característica, você consegue desfrutar de tudo.
Entre as variedades de uvas e os tipos de vinho produzidos, quais são suas "meninas dos olhos"?
São muitos, né? Mas o que eu gosto bastante é a elaboração do espumante. A partir da elaboração do vinho vem uma segunda fermentação. Mas claro que todos me satisfazem, além disso, o que gosto muito é algo que dá pra trabalhar com todos os tipos de produto. Me apaixona muito o espumante, mas imagina conseguir trabalhar com vinho de mesa, vinho fino, espumante, suco de uva. Isso faz com que o enólogo seja mais diversificado.
Estamos em novembro, logo chega o período de festas, final de ano. Qual a dica de ouro para os consumidores na hora da escolha?
Vamos dar não só uma dica, então, vamos dar algumas opções. Um espumante mais leve, sutil, em uma prainha ou em um riozinho, no meio do mato, tranquilo, ou um espumante um pouco mais encorpado para um jantar harmonizado. Além disso, um vinho branco leve para o verão, é uma ótima dica, ou um tinto sutil para um jantar, um almoço, com comidas mais distintas, mais leve, seria o interessante, para ter um pouco de tudo. Isso falando em um espumante brut, extra brut, ou falando em um vinho seco. Para quem realmente gosta de um vinho suave, um tinto de mesa suave, docinho, sutil, também cai muito bem, para para qualquer momento.