Na palestra que abriu o Universo Pecuária, em Lavras do Sul, o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo abordou a neutralidade de emissões na atividade. Também falou sobre os selos de carbono neutro e baixo carbono da empresa.
Leia trechos e ouça a entrevista completa no domingo, às 6h, no Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha.
O que são carne carbono neutro e carne baixo carbono?
São duas marcas registradas da Embrapa associadas a protocolos de produção. No caso da carne carbono neutro, é produzida de uma forma com que as emissões dos animais sejam compensadas pelo próprio sistema de produção. E o sistema de produção que mais se adequa a esse tipo de produção são aqueles que envolvem o componente florestal na pastagem. Então, essa produção gera um produto diferenciado, com maior valor agregado no mercado, porque ele tem a comprovação de que essas emissões são neutralizadas. Já o protocolo carne baixo carbono, que ainda não está no mercado, é orientado a sistemas de produção que não têm o componente florestal, que, na verdade, é a maior parte dos sistemas de produção pecuário brasileiro.
É possível ter mais do que a neutralidade, com a produção compensando e gerando um saldo positivo?
Isso. Digamos que a gente está sendo conservador na avaliação global desse sistema. Então, realmente, esses sistemas bem manejados permitem que haja um maior volume de carbono sequestrado do que emitido. Hoje, o produtor que tiver interesse em entrar no processo de certificação da carne carbono neutro só precisa entrar na plataforma Agri Trace Animal da CNA, fazer o seu cadastro e escolher a certificadora para dar andamento ao processo.
E aí o produtor pode ostentar esse selo no seu produto?
Esse é um outro ponto importante, porque esse processo de certificação envolve também o frigorífico, e, nesse caso, nós temos a parceria com a Marfrig. Então, a Marfrig, sim, é responsável por colocar a marca na carne. E, obviamente, o produtor recebe um valor a mais por uma carne produzida de uma forma mais sustentável.
Se fala muito nos efeitos da emissão da agropecuária. Qual é o tamanho desse problema?
A agropecuária tem emissões, assim como os outros setores. Mas a agropecuária também tem uma oportunidade. É o único setor que tem, hoje, tecnologias economicamente viáveis para fazer essa remoção. Os outros setores não têm. Não que não tenha tecnologia, existe, mas não são economicamente viáveis no momento. E no agro, no final das contas, é só fazer bem feito que nós temos condição de produzir e mitigar as emissões. Já, por exemplo, a indústria ou o setor de energia têm que diminuir o gasto ou diminuir as emissões. Essa é a única forma de mitigação que esses setores têm.
E como comunicar para as pessoas essa possibilidade do agro ser mais do que um emissor, mas um removedor?
Esse é um ponto muito importante e que o setor ainda precisa evoluir. A gente precisa realmente comunicar mais e não comunicar só para dentro do agro. Não é o agro que tem que ouvir, digamos assim. É justamente o fora do agro, e são as pessoas da cidade que muitas vezes não têm noção do agro.