Depois de dois anos consecutivos de perdas em razão da estiagem, o Rio Grande do Sul terá em 2024 a produção de verão prejudicada pela chuvarada. Os temporais e alagamentos de agora chegam em um período em que cada gota que cai a mais pode representar a diferença entre ter perdas nas lavouras e sequer conseguir colher. O impacto da umidade excessiva aparece em todas as culturas, mas em razão da etapa de desenvolvimento, algumas estão mais suscetíveis do que outras. É o caso, por exemplo, da soja e do arroz, sobretudo nas chamadas terras baixas, de várzea.
— Com a previsão (de chuva) que tem pela frente, a soja que não brotar, vai ficar ardida (apodrecida). A situação é desesperadora, principalmente para o pessoal que plantou na várzea, em rotação com o arroz — avalia Décio Teixeira, vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja).
O dirigente acrescenta que têm muita soja por colher nas regiões de terras baixas. Com as lavouras debaixo d'água, os efeitos são a germinação da vagem e o apodrecimento, comprometendo produtividade e qualidade.
— Quem conseguir colher, vai colher praticamente resíduo. É um mar de água, vai trazer um prejuízo imenso — reforça Teixeira.
Opinião compartilhada por Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS). Ele explica que na Região Central, onde ainda há 40% da área plantada com o cereal por colher, os rios saíram dos leitos e invadiram as lavouras:
— É cedo para precisar as perdas, mas uma coisa é certa: o prejuízo não é pequeno, porque em muitas regiões passou de 300 milímetros a chuva.
O que torna o dano mais irreversível é o estágio em que se encontram as plantações ainda no campo. Tivesse sido na fase de desenvolvimento vegetativo, explica Velho, a lavoura coberta por água. Na atual fase, de maturação e colheita, o encharcamento estraga o grão e provoca o acamamento (a lavoura "deita"). Isso prejudica a qualidade e por vezes inviabliza a colheita.
— É muito preocupante. Tem produtores perdendo inclusive equipamentos para a enchente — observa o presidente da Federarroz-RS.
Hortigranjeiros e orgânicos afetados
A produção de hortigranjeiros também é diretamente impactada pela chuvarada no Estado. Evandro Finkler, presidente da Associação de Produtores da Ceasa, relata que produtos como rúcula, radite e alface americana "estragaram bastante já". Agricultores com estufas não tinham nem conseguido recuperar as estruturas, afetadas pelo último temporal.
— Acho que o impacto será bem elevado. Fora que, preparar a terra com esse tempo fica muito difícil. Novas plantações vão demorar um pouco — avalia Finkler.