A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Um aporte milionário de 7 milhões de euros — o equivalente a cerca de R$ 40 milhões, acaba de desembarcar no Rio Grande do Sul para dar ainda mais corpo às iniciativas de preservação do Pampa. Batizado Alianza Mais, o projeto tem como foco primordial integrar a produção pecuária à conservação do bioma, capacitando produtores e incentivando novos negócios sustentáveis no campo.
A iniciativa é liderada pela Associação para Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), que integra a Alianza del Pastizal, em parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Do total do recurso destinado, 2 milhões de euros têm origem em aporte do Fundo Francês para o Meio Ambiente Mundial (FFEM).
O biólogo e diretor da SAVE Brasil, Pedro Develey, explica que o projeto foi elaborado em cima dos quase 20 anos de trabalho que a Alianza del Pastizal realiza junto aos produtores rurais. A iniciativa formada por quatro países (Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai) prioriza a preservação do Pampa e a biodiversidade da fauna e da flora do bioma por meio de incentivo a técnicas de manejo favoráveis ao meio ambiente.
Atualmente, a Alianza del Pastizal conta com 308 produtores membros no Rio Grande do Sul. A expectativa com o aporte milionário é fazer esse número passar de 500 nos próximos cinco anos e pelo menos dobrar a área de campo nativo preservado na metade Sul do Estado — hoje, são 160 mil hectares nessa condição conservada, o que é considerado grandioso, segundo Develey.
— O projeto vai escalonar e consolidar uma iniciativa que já existe há muito tempo. Apesar de todos os esforços, se olharmos os dados, vemos que ainda está se perdendo área de campo nativo, o que faz perder biodiversidade de fauna, flora e pássaros, que são os nossos indicadores — diz Develey.
Com a presença do governador Eduardo Leite e outras lideranças políticas, o projeto foi lançado oficialmente no sábado (15), em Lavras do Sul, município gaúcho que vem protagonizando discussões sobre pecuária sustentável e que abriga uma das principais praças de comercialização de gado do RS.
Também entre os nortes do Alianza Mais está ampliar os benefícios ao produtor, tornando a prática sustentável atrativa comercialmente. Por meio do Alianza del Pastizal, já há um programa de certificação de carne em que o principal critério é que 50% da propriedade seja de campo nativo. A importância é mostrar ao produtor que o modelo de produção pode, inclusive, aumentar o valor agregado da carne gaúcha, que já se diferencia no mercado pela qualidade.
Para Develey, o projeto será referência de preservação para outros biomas do país:
— Vejo cada vez mais o Pampa ganhando protagonismo no Brasil como bioma. Vamos exibir o projeto para outros biomas como um exemplo de convivência da produção com o meio ambiente. Essa integração de ambientalistas com produtores é um modelo bem-sucedido do Pampa e vamos replicar para o Cerrado e mesmo a Amazônia.
Outro componente chave do projeto é a parceria com o BRDE, que financiará iniciativas com uma linha de crédito designada para a produção sustentável.
— Um projeto feito com a parceria de um banco especialmente para a produção sustentável é extremamente inovador, um mecanismo financeiro para preservar o meio ambiente — reforça o biólogo.
Apesar do foco na pecuária, o Alianza Mais não se restringe à cadeia da carne e poderá ser aplicado em outras atividades ou tecnologias produtivas do Estado que se baseiem na prática sustentável.