![Ildo Valentini / Arquivo Pessoal Ildo Valentini / Arquivo Pessoal](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/2/9/8/7/6/5/4_47f1848f9948c86/4567892_a89de1000438f0b.jpg?w=700)
Em tempos de tecnologia ao alcance da mão, é nas anotações feitas a caneta em agendas ao longo dos últimos 30 anos que um produtor de Tupanciretã, no noroeste do Estado, tem um histórico do clima na região. Chamado Ildo Valentini, mas também conhecido por alguns como “o homem do tempo”, ele registra como esteve o céu e a temperatura todos os dias na sua propriedade.
E, apesar de ter cursado apenas até a quinta série, a experiência acumulada no campo e registrada em cadernos o permite, hoje, fazer avaliações sobre a estiagem no território gaúcho:
— A seca é costumeira e traiçoeira. Às vezes, a gente pensa que vai dar certo, e o tempo te dá uma rasteira. A safra 2011/2012, por exemplo, achei que tinha sido a pior, mas a de 2022 superou. E essa, de agora, caminha para o mesmo rumo.
Tamanho foi o estrago, que no ano passado, Ildo colheu apenas 10 sacas por hectare — seis vezes menos do que o potencial da lavoura. Além da falta de água, outro fator que prejudicou — e tem prejudicado a sua produção — são as altas temperaturas.
— Naquela época, há 60 anos, 32ºC já achávamos quente. Hoje é comum chegar a 40ºC. Não tem planta que aguente — afirma, citando informações das suas anotações.
A tarefa diária de anotação também fez Ildo aprender a se precaver em outras situações.
— Quando vem aquele veranico no inverno, muitos produtores acham que não vem mais frio e acabam perdendo a lavoura por isso. O inverno é da própria natureza. Tem que lembrar aquele ditado: “O frio tarda, mas não falha” — exemplifica.
Atualmente, Ildo já abandonou a prática, adquirida quando fez sociedade com a mãe e as irmãs. “Depois de velho, fiquei preguiçoso”, brinca. Na época, como ele era quem administrava o negócio, anotava, por exemplo, quanto gastou e quanto aplicou de insumos ao longo da safra, para ter uma espécie de controle de gastos. E foi então que resolveu registrar também informações do tempo: se fez calor, se tinha sol ou se choveu.
A gestão dos seus 2,2 mil hectares, onde são cultivados soja e trigo, está agora com os filhos. Mas a memória do tempo que passou segue. Guardada nas suas agendas.
As anotações do produtor, inclusive, chamaram a atenção do assistente técnico regional da Emater em Santa Maria, Pedro da Costa, que o definiu:
— Esse é o homem do tempo!
*Colaborou Carolina Pastl