Projeções do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) indicam que o valor pago ao produtor pelo litro de leite, na média do Brasil, pode ter reajuste de mais de 15% neste mês, passando de R$ 3. Perspectiva que também apareceu na projeção do Conseleite (R$ 3,4163 de referência). Esse repasse, no entanto, não trará novos aumentos para o consumidor. Pelo contrário. O pecuarista receberá a valorização com atraso em relação ao mercado, disse em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha (ouça abaixo), a pesquisadora Natália Grigol:
— É um movimento de dinâmica invertida da cadeia. O produtor vai receber essa condição de mercado depois do consumidor. A gente viu essa movimentação muito forte entre junho e julho (alta de preços nas gôndolas) e isso agora está chegando ao campo.
E deverá seguir “pelo menos até agosto, setembro” para o pecuarista de leite. Para o consumidor, o cenário é outro, com tendência à estabilidade. Até porque, pesquisas já mostram que houve um freio nas compras no mês de julho.
A valorização do leite nessa época do ano não chega a ser uma novidade, porque é quando ocorre a entressafra, com redução na produção. O atípico, no entanto, foi a rapidez da subida em pouco tempo.
— O setor como um todo tem sofrido essa pressão dos custos, por isso estamos tendo uma produção mais reduzida — acrescentou Natália.
Do grão utilizado na ração, ao combustível, as despesas ficaram mais caras. Cálculos do Cepea apontam que, de 2019 para cá, o custo operacional subiu mais do que 55%. Soma-se três verões consecutivos no Rio Grande do Sul com perdas por estiagem, e o quadro fica mais complicado. Não por acaso houve abandono da atividade e redução de investimentos, refletindo em volume.
— Os anos de 2020 e 2021 foram muito ruins para os produtores de leite, agravados pela estiagem. Agora, podemos afirmar que é um momento de recuperação, mas mesmo assim, foi inevitável a desistência de centenas de famílias — diz Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS).
Para tentar dar maior previsibilidade ao pecuarista, entidades defendem que o valor pago ao produtor seja definido com antecedência – hoje, é conhecido quando recebe, no mês seguinte à entrega.