A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
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A ideia de que um bom trabalho de gestão muda o rumo da agricultura é um dos nortes do engenheiro agrônomo Alexandre Gazolla Neto. Atendendo a demandas que vão da lavoura à indústria, o profissional atua como consultor em agronegócio, levando conhecimento sobre manejo e produção de sementes para todos os níveis da cadeia produtiva.
– O plantio é o que define o resultado da produtividade. Preciso plantar bem e seguir os preceitos para garantir o sucesso da lavoura – diz.
Na entrevista a seguir, conheça mais sobre a atividade e trajetória do profissional:
Como funcionam as consultorias?
A consultoria é focada em empresas e produtores do Brasil todo, junto a profissionais de outras áreas, desde a produção, com o cooperado ou o agricultor, ou dentro da indústria de sementes, no controle de qualidade dessas empresas. No campo, com o produtor e parceiros, em toda a etapa de plantio e de colheita, e depois na indústria, desde a recepção e secagem do material, armazenamento, processamento, tratamento das sementes e expedição para uma próxima safra. É uma dinâmica entre campo, indústria, controle de qualidade e times comerciais.
Como esse trabalho pode ajudar o produtor?
Esse trabalho ajuda o produtor a ter uma perfeição maior do plantio, onde cumprindo os preceitos das boas práticas, ele vai distribuir sementes que vão gerar uma planta forte, com muita capacidade de entregar produtividade. Hoje, tudo é feito através de uma semente que carrega cultivar, resistência a pragas, doenças, capacidade produtiva e tratamento industrial. A semente é o vínculo entre genética e produção, passando pelo produtor de sementes e chegando no produtor.
Como desenvolveu essa atividade profissional?
Sou engenheiro agrônomo e tenho mestrado e doutorado em sementes. Sempre fui muito de falar, comecei fazendo palestras e isso acabou migrando para consultorias. A primeira empresa que fiz consultoria foi no RS, em São Gabriel, e hoje atendo aos maiores players do agro brasileiro. Cada vez mais as empresas têm buscado esse serviço. O agricultor exige a qualidade, mas não consegue dar esse passo sozinho. Existe uma carência de profissionais qualificados para isso no mercado. Não basta ter conhecimento, tem que ter a capacidade de transformar o conhecimento em rentabilidade para a empresa. Isso passa por um convencimento das equipes e dos gestores, de ter a capacidade técnica de aplicar isso. Não é só convencer um investimento: tem que convencer e poder aplicar.
Quais os caminhos para quem quer começar?
Tem que ter um bom conhecimento e entender quais são as dores do mercado. Minha consultoria sempre foi uma demanda para a qual existia espaço. E eu construí em cima de algo que estava vazio e fui ganhando mais área. Do mesmo modo funciona na área de palestras e treinamentos. Escolhi áreas que não tinham solução, que ninguém estava abordando ou que era obscuro. Para isso tem que ter conhecimento técnico muito grande. Se está abordando uma área inovadora, significa que não existe uma pesquisa dizendo que aquilo está certo. O principal é levar uma solução que gere resultado. Gerando resultado, é um rastro de pólvora. Tem que saber identificar a oportunidade. O que está faltando naquele segmento? O que não está sendo trabalhado corretamente?
Na prática, o que significa o trabalho de gestão na fazenda?
O agricultor compra uma semente com qualidade, só que planta errado. Ele deixa de seguir as boas práticas de plantio. Isso faz com que a semente não germine, não se torne uma planta, e isso gera uma reclamação com o distribuidor ou com o sementeiro. É uma reclamação indevida, na verdade, porque o plantio foi feito errado. Como se eu tivesse comprado um carro esportivo e ter ido andar na lavoura e depois reclamar que o carro não funciona, sendo que ele funciona para um objetivo. Falta muita informação ao produtor sobre boas práticas de plantio. O conhecimento revolucionou, principalmente, o plantio de soja. No ano passado, mais de 60% da área de soja recebeu de alguma forma essas orientações, e isso é muito significativo. Muda o rumo da agricultura.
Que características o profissional desta área precisa ter?
A principal característica é o senso de liderança. Como faço muita palestra em semanas acadêmicas, costumo dizer aos alunos que precisam de três coisas. A primeira é honestidade, como em qualquer atividade; a segunda é ter vontade de ir para regiões remotas. Porque as melhores oportunidades não estão nos grandes centros, estão em locais de difícil acesso, onde não vai ter todo o benefício de estar numa cidade. E o terceiro é conhecimento. Primeiro precisa ser um profissional idôneo, com vontade de trabalhar, e depois ter o conhecimento. As empresas têm processos que já vem dando certo. O profissional entra para fazer parte e agregar.
Viajar faz parte do seu trabalho. Que pontos destoantes e em comum encontra nos lugares que visita?
Temos um universo muito amplo. De ponto positivo, vemos a perseverança do produtor em querer melhorar, fazer diferente, e em preservar, que é um ponto que se bate muito forte no agro e o produtor tem muita vontade de seguir o que é regulamento. De dificuldades, vemos a escassez de insumos levando o agricultor a tentar outras soluções. De maneira geral, vemos a dificuldade do produtor de entender que a nossa genética mudou nos últimos anos. Vinha de cultivares que entregavam produtividade de 30 a 40 sacas dez anos atrás. Hoje, há uma genética que além da resistência contra pragas e doenças entrega produtividade muitas vezes superior a 100 sacas. Só que essa genética é mais sensível em algumas situações de manejo. Ao mesmo tempo, o nosso clima mudou muito. E o Brasil é muito grande em termos de manejo. Tem uma dificuldade de entender que o plantio é a chave. A base de todo o investimento é a planta. Preciso plantar bem, seguir os preceitos das boas práticas de plantio e a operação no campo precisa ser assertiva.