A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

Engenheiro agrônomo formado na Argentina, mas com extensa atuação no Brasil, o pesquisador Ramiro Ovejero, da Bayer, defende que investimento em tecnologia e desenvolvimento é fundamental para incluir ciência nos produtos e apresentar coisas novas ao produtor. Em entrevista, Ovejero, que atua como líder de manejo de resistência de plantas daninhas da multinacional, fala sobre avanços possibilitados pela inovação no agronegócio e faz projeções para o segmento.
Onde entra a ciência no seu trabalho?
Meu trabalho tem uma formação acadêmica muito consistente na área de manejo de plantas daninhas. A companhia, quando me contratou, precisava de um cientista nessa linha e eu sou um dos profissionais que atuam nessa área, assim como outros que trabalham em outras áreas, e vamos construindo esse conhecimento. O que fazemos hoje tenta integrar esses conhecimentos de forma que a gente consiga chegar a um patamar de inovação superior.
O que está sendo desenvolvido atualmente?
No meu trabalho hoje, pontual, sou responsável por construir ou ajudar a garantir a maior durabilidade dos produtos que lançamos no mercado. Um exemplo: lançamos o Intacta 2 xtend (variedade de soja), e o que é importante para ele é o refúgio, porque colocamos mais algumas proteínas Bt dentro dessa cultura, como estratégia de manejo dessas lagartas. A função do refúgio é gerar lagartas ou mariposas suscetíveis para que, se for gerada alguma mariposa resistente dentro da área de uso da tecnologia, no momento em que há cruzamento entre elas, sejam gerados indivíduos também suscetíveis, para que a gente maneje a durabilidade.
O que a gente quer é que não tenha indivíduo resistente nessa lavoura. O refúgio garante material suscetível para ter cruzamento e que esse material não seja resistente à tecnologia.
Também oferecemos tolerância a herbicidas, seja o glifosato ou a dicamba. Se eu só usar esses produtos, com o tempo posso selecionar indivíduos resistentes, como plantas daninhas. Então, proponho um manejo integrado, ou seja, posso usar essas ferramentas, mas além delas preciso integrar algumas outras não químicas, como uma cobertura, mas também outros químicos diferentes desses para que, de alguma maneira, tanto para pragas quanto para plantas daninhas, a gente tenha durabilidade maior e o agricultor possa usufruir dessas tecnologias.
O que destaca do desenvolvimento até aqui?
Primeiro, gostaria de destacar que nossos aumentos de produtividade são significativos. Lógico que não se pode atrelar isso apenas às inovações, mas a uma série de coisas que estão juntas. O produtor brasileiro é inovador porque traz tecnologias. Nós colaboramos com materiais que garantem produtividades maiores para que ele possa usufruir desse sistema. Também colaboramos, seja com inseticidas, herbicidas, com proteção. A produtividade está na semente, é uma característica dela, então estamos somando a isso. Mas vem mais coisas, porque estamos com inovação e pensando diferente, trazendo coisas que hoje não existem, para completar esse pacote de inovações. Temos expectativa de, nos próximos anos, não só aumentar a produtividade, mas também oferecer ferramentas sustentáveis para que façamos a proteção da cultura ao mesmo tempo.
O que prospecta para o futuro nessa área?
Sempre trabalhamos por prioridades. Melhorar o germoplasma, a proteção, mas o que nós estamos trabalhando mais hoje é na parte da digitalização, da integração de toda a informação. Hoje, tem informações separadas, então através da digitalização queremos integrar as coisas. Buscamos dados específicos da região onde o agricultor está localizado e integramos com os nossos dados. Assim, racionalizamos as recomendações mais precisas para o que o produtor vai plantar. E o mais importante: não quero aumentar necessariamente a área de plantio, o que quero é por cada unidade de produção aumentar a produtividade. Usufruir melhor dessa área, mas sempre de maneira sustentável, porque preciso pensar a longo prazo. É o que estamos trabalhando mais nesse momento.
Como entrou para a empresa?
A Bayer tem mais de 7 mil pessoas que trabalham com ciência. Quem trabalha com ciência não necessariamente é um doutor, mas evolui para isso, e a empresa investe para que as pessoas evoluam. É isso que nos traz resultados interessantes, uma diversidade de cérebros pensantes para ajudar o agricultor. No meu caso, já tive uma carreira acadêmica, e a empresa me abriu as portas para fazer parte. Sou engenheiro agrônomo formado na Argentina e fiz meu mestrado e doutorado aqui no Brasil, em São Paulo, na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP). Depois de terminar essa carreira acadêmica, a gente participa de congressos, estamos no debate, temos interação com grupos acadêmicos para cocriar.