O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A combinação entre oferta restrita de gado no país e crescente apetite da China por carne brasileira está levando a arroba do boi gordo a renovar a cada dia a maior cotação nominal já registrada. O indicador Cepea/B3, com referência para São Paulo, está próximo de romper a barreira dos R$ 300 pela primeira vez na história – na sexta-feira, fechou a R$ 299,85. Somente em 2021 acumula valorização de 12,2%. Frente ao mesmo período de 2020, sobe 61,1%
No Estado, a situação não é diferente. Levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), indica que o preço do quilo vivo do animal atingiu, em média, R$ 9,05 na última semana de janeiro. Isso representa avanço de 5,1% no mês e salto de 28,6% em relação ao mesmo período de 2020. Como reflexo da valorização, o consumidor já tem se deparado com preços mais altos em uma série de cortes de carnes no supermercado.
– Os cortes de carnes mais voltados ao churrasco, como maminha, costela, picanha, acumulam aumentos entre 30% e 40% nos últimos 12 meses – constata Júlio Barcellos, coordenador do Nespro.
Assim como no país, a oferta de gado para abate no Rio Grande do Sul está mais restrita. Barcellos estima que o rebanho gaúcho diminuiu entre 3% e 5% em 2020, chegando atualmente a cerca de 12 milhões de cabeças de gado. A estiagem no ano passado prejudicou as pastagens e dificultou a engorda dos bovinos, também influenciando a disponibilidade de animais para os frigoríficos.
Ao mesmo tempo, a demanda por gado segue aquecida neste ano, sobretudo pelos pedidos voltados ao mercado chinês. Dados do Ministério da Economia apontam que o Brasil exportou 2,01 milhões de toneladas de carne no ano passado, elevação de 8% frente a 2019. A receita atingiu US$ 8,4 bilhões, incremento de 11%. Somente China e Hong Kong responderam por quase 60% dos embarques. O RS foi o oitavo Estado que mais vendeu carne, embarcando 83,5 mil toneladas, com 4,1% de alta.