Relatório da Secretaria da Agricultura sobre casos de deriva no Rio Grande do Sul aponta que 2020 foi um ano com mais denúncias, mas com redução de 25,89 pontos percentuais nas amostras contaminadas e de propriedades e municípios atingidos pelo problema. Essa é a terceira safra em que laudos confirmam a presença de resíduos, sobretudo do herbicida 2,4-D em culturas que não a da soja, onde é aplicado.
Para Rafael Friedrich de Lima, chefe da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da secretaria, o quadro evidencia “os primeiros resultados das Instruções Normativas editadas em 2019”. A opinião é compartilhada pelo promotor Alexandre Saltz, do Ministério Público Estadual, que coordena inquérito do caso:
– Começam a produzir efeitos. Claro que isso não é de uma hora para outra, mas já foi uma redução significativa nos números totais do Estado.
Domingos Velho, dirigente da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul), também considera que os resultados indicam que se está “no caminho certo”:
— Mostra que o processo de instrumentalização e de formação do produtor foi efetivo mesmo na pandemia.
O promotor Salta ressalva que a região da Campanha, “bem atingida”, tem peculiaridades que estão sendo tratadas “isoladamente”, com reforço na fiscalização, “inclusive policial”.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha – a uva tem sido uma das culturas de maior prejuízo –, Valter Pötter, o cenário agora posto é visto de forma bem diferente:
— É um absurdo achar que 89 crimes ambientais, com impactos econômicos e sociais, está bem. Que 89 produtores lesados e não indenizados seja um avanço. Avanço seria a deriva zero. Porque é o produtor que está arcando com esse enorme prejuízo.
Só em um grupo de 40 produtores, afirma, as perdas causadas somam um milhão de garrafas. A entidade faz parte de ação civil pública protocolada que pede suspensão do uso enquanto não houver zonas de exclusão em proximidade de culturas sensíveis.
Em números
- O relatório refere-se ao período de agosto a dezembro de 2020. Foram 137 denúncias, ante 123 em 2019 (+11,385).
- 101 amostras apontaram a presença de 2,4-D, ou 62,34% – em 2019, havia sido 88,23%. Foram 89 propriedades afetadas (contra 110 em 2019) em 31 municípios (11 a menos do que no ano anterior).