Marcos Tang, 53 anos, atua na linha de frente da pandemia do coronavírus. Médico cirurgião e produtor rural, o presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do RS (Gadolando) está duas vezes na lista de profissionais que não podem parar. Diante da necessidade de prevenção, evitando aglomerações, apontou a necessidade de suspender a 43ª Expoleite e a 12ª Fenasul. Opção confirmada na segunda-feira (6) com todas as outras entidades organizadoras, incluindo a Secretaria da Agricultura. À coluna, ele contou como tem sido a rotina, no hospital onde trabalha, em Porto Alegre, e na propriedade, em Farroupilha. Confira trechos da entrevista.
Como tem sido sua rotina, entre hospital de e a granja?
Respeito extremamente o isolamento social. Tenho ido para a propriedade aos finais de semana. E evito totalmente o contato com meus pais. Cumprimento eles de longe. Minha mãe não gosta muito... Mas tenho de ir. A vaca não tem botão de pause. Mesmo neste cenário de estiagem e de coronavírus. É preciso alimentar bem os animais, ordenhar, inseminar, porque são ciclos de médio e longo prazo. A terneira que nasce hoje tem de ser muito bem cuidada, mas vai dar leite só em 2022. Você paga o prejuízo de uma estiagem ou de um erro administrativo por muito tempo.
A vaca não tem botão de pause"
MARCOS TANG
Produtor e médico
O setor como um todo tem funcionado normalmente?
Neste momento, o que precisamos muito é garantia de recolhimento do leite. Nosso isolamento social não é jejum. Por ora, tem sido normal. Não tenho recebido reclamação de não recolhimento nas propriedades. Há dificuldades nas queijarias, pela redução de consumo nos ramos de alimentação. Estão direcionando parte do leite para o mercado spot.
Ainda não há nova data para a Expoleite e a Fenasul, que foram suspensas. Há previsão de quando poderiam sair?
A Expointer deve ser um termômetro, para definir se sai ou não a Expoleite neste ano.
A Expointer acontecendo em seu tempo normal, acho que teria espaço no segundo semestre. Mas acho que tem de se esperar o fim de maio para definição. Não só por ser médico, mas por entender a situação, já havia me manifestado sobre a necessidade de suspensão.
E no hospital, como tem sido a rotina?
Trabalho na recuperação de pacientes cirúrgicos (no Moinhos de Vento, além de realizar cirurgias na Santa Casa), e as cirurgias hoje acontecendo são as que têm urgência, emergência. Fraturas, pedras, apendicites, câncer. Não se pode postergar cirurgia para não comprometer tratamento. É preciso se munir de cuidados, mas atender esses pacientes, porque continua havendo outras doenças. Pessoas com sintomas fortes de outros problemas têm de procurar auxílio. Hospitais têm equipes e leitos especializados. Usamos equipamento de proteção individual.