Sem um porta-voz com peso político no governo de Michel Temer, a agricultura familiar tem poucas expectativas para o Plano Safra, que será anunciado nesta quarta-feira no Palácio do Planalto, em Brasília. Embora tenha pedido juro menor para o crédito agrícola, a exemplo da agricultura empresarial, quase não há esperança de que as taxas sejam reduzidas. O volume de recursos também deve ser mantido, de R$ 30 bilhões.
– Não temos um Blairo Maggi nos representando – diz Antoninho Rovaris, secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (Contag), referindo-se à ausência de um ministro voltado ao setor.
Desde a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, as decisões envolvendo a agricultura familiar passaram a ser subordinadas à Casa Civil. Rovaris conta que o setor chegou a sentar com o governo para tentar negociar juro menor, diante das quedas da inflação e da taxa Selic nos últimos meses:
– Mas com os acontecimentos recentes não teve mais clima para negociar nada.
O juro do crédito para a agricultura familiar hoje varia de 2,5% a 5,5% ao ano, incluindo custeio, comercialização e investimento. O pedido das centrais sindicais é de uma redução de pelo menos um ponto percentual – o mesmo que será concedido à agricultura empresarial.
– Quando você não tem um ministério, a discussão já começa num patamar inferior. A agricultura familiar é o patinho feio desse governo – afirma o deputado federal Heitor Schuch (PSB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar.
A esperança para o novo plano é de que o governo amplie o teto do crédito fundiário de R$ 80 mil para pelo menos R$ 150 mil e de 20 para 30 anos o prazo de pagamento. Somente no Estado, mais de 500 propostas estão paradas aguardando o aumento de valor – considerado muito baixo diante do preço da terra.
– Um anúncio positivo amenizaria a impopularidade do presidente neste momento de clima muito ruim – diz Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag).
*Interina