O entusiasmo dos produtores gaúchos com o preço da soja nos últimos meses, elevado por conta da desvalorização do real frente ao dólar, deu lugar à apreensão nos últimos dias após a moeda ter recuado ao menor patamar desde agosto do ano passado. A preocupação é mais do que justificada. Os produtores plantaram uma safra com custo 25% maior e com a cotação da soja em baixa no mercado internacional. A compensação vinha do dólar acima de R$ 4, que fez o preço da saca de soja saltar para quase R$ 80. Nesta segunda-feira, com a moeda americana fechando a R$ 3,65 no câmbio brasileiro, a saca estava em R$ 65.
- A variação cambial nas últimas três semanas fez o preço cair mais de 12% no mercado a balcão, isso significa perda de renda direta ao produtor - salienta Índio Brasil dos Santos, sócio da Solo Corretora.
Impactado pelas repercussões da Operação Lava-Jato no país, o dólar oscilou justamente no momento em que os produtores gaúchos começam a entrar nas lavouras para colher uma das maiores safras de soja da história - estimada em mais 16 milhões de toneladas.
- Os produtores estão apreensivos, com medo de que o preço caia ainda mais - afirma Santos.
A instabilidade às vésperas da colheita não pode ser considerada uma surpresa. Ainda em setembro do ano passado, entidades orientaram os produtores a se proteger em uma safra de alto risco.
- Alertamos os agricultores de que isso poderia acontecer e insistimos para travarem a soja e o câmbio como forma de garantir preço - lembra Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul.
Levantamento da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) indica que 40% da safra gaúcha de soja foi vendida de forma antecipada. O restante será colocado no mercado após a colheita, sem nenhuma certeza de preço.
- O câmbio é uma variável que não temos nenhum tipo de controle. Não dá para correr riscos em um ambiente instável como o nosso - avalia o economista.