Considerada indicação da "cota pessoal" da presidente Dilma Rousseff, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, terá de administrar pressões a partir desta segunda-feira - quando voltará a Brasília após afastamento pela morte do seu pai na semana passada. De um lado, as lideranças do agronegócio contrárias ao governo do PT. De outro, a iminência do rompimento do PMDB com Dilma - partido pelo qual Kátia foi eleita senadora no Tocantins. Carta divulgada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que presidia até assumir o ministério, deixa claro o descontentamento com o governo Dilma. "O setor se credencia a alertar para o desastre iminente", diz um trecho da nota. Em reunião da diretoria nesta segunda, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) deverá ratificar a posição nacional.
- A Kátia não escriturou o ministério. Chegou lá pela representação do setor - disse o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, durante abertura oficial da colheita gaúcha de soja, na sexta-feira, em Tupanciretã.
O agravamento da crise nos últimos dias fez o PMDB, partido presidido pelo vice-presidente Michel Temer, antecipar a reunião que deverá levar ao rompimento com a gestão de Dilma para o próximo dia 29 - duas semanas antes do previsto. As bases exigem que as pastas ocupadas pelo PMDB sejam entregues ainda no mês de março. Kátia seria uma das ministras mais pressionadas pela cúpula partidária.
Nesta segunda, o PMDB gaúcho deve oficializar a entrega dos cargos que tem no governo federal.
O mais importante é o do secretário nacional do Produtor Rural e Cooperativismo, ocupado por Caio Rocha. No Ministério da Agricultura desde 2012, passando por quatro diferentes ministros, Rocha disse que só sairá do governo após decisão do diretório nacional.
- Não fui indicado pelo PMDB gaúcho que, inclusive, não apoiou a Dilma - esclarece.
Sobre o desejo de permanecer ou deixar o cargo, Rocha disse que considera estar fazendo um bom trabalho, reconhecido pelo setor.
- Mas nessa hora, a qualificação se submete a uma decisão nacional.
A eventual saída de Kátia Abreu e de Caio Rocha, ambos fortemente identificados com o setor primário, deixa um ponto de interrogação sobre o rumo da política agrícola no país. Mais incertezas em meio a um país mergulhado em crise.