Dificilmente, o novo presidente argentino, Javier Milei, romperá o comércio com países de esquerda, o que inclui o Brasil, como chegou a dizer. Ainda na campanha, moderou o discurso e seu posicionamento mais liberal sem os rompantes anteriores tem até animado empresários o mercado financeiro. Apesar disso, há temor de que o candidato eleito venha a tomar medidas irrealistas, o que provocaria, no mínimo, risco de crédito.
Mas enquanto o tempo mostra o rumo do país vizinho, o que as empresas brasileiras (e gaúchas) querem agora, passada a eleição, é receber o pagamento das exportações já enviadas. Há muito dinheiro que foi retido pelo governo argentino para conter divisas e evitar desvalorização ainda maior do peso em relação do dólar.
Presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), Francisco Cardoso viajará à Argentina nesta semana para sondar as perspectivas.
- Vou procurar entender, falando com os argentinos na terra delas - diz.
A estimativa é de que US$ 45 bilhões em mercadorias foram liberados para entrar no país, mas sem autorização de pagamento, o que inclui automóveis, calçados e produtos químicos brasileiros, sendo muitos com origem do Rio Grande do Sul. Em fretes, são devidos US$ 250 milhões.
A coluna questionou sobre o assunto o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, durante entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ainda no mês passado. Ele confirmou que a demanda que chega ao governo é grande sobre os atrasos.
- É uma preocupação muito importante. Os empresários a trazem à Embaixada, nós levamos às autoridades competentes argentinas, buscando destravar os problemas. Em alguns casos, é possível. Em outros, mais complicado. A nossa expectativa é de que o novo governo, a partir de dezembro, agilize e possa eliminar essas restrições. Como foi bem colocado, estão todas ligadas à preocupação argentina em conter a saída de dólares para manter um nível de divisas razoável.
Mesmo com inflação de quase 150% ao ano, atraso de pagamento e uma instabilidade enorme, o mercado argentino é extremamente atrativo para os brasileiros, especialmente os gaúchos, que estão tão próximos. Além de ser grande, ele fica perto, tendo características semelhantes e menor custo logístico.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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