Clientes da empresa gaúcha de investimentos em criptomoedas Ubuntu não estão conseguindo resgatar o dinheiro aplicado e dificuldade também de comunicação. Diversas reclamações nas redes sociais e plataformas, como Reclame Aqui, relatam falta de resposta e valores bloqueados. A empresa confirma a situação e afirma passas por uma crise financeira desde a quebra da corretora internacional de cripto FTX. Ela tem 1,5 mil clientes, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul e na Bahia.
— No final do ano passado, a Ubuntu teve uma perda de recursos devido à falência da FTX. Metade dos ativos estava como hedge (garantia) na corretora, e ainda não conseguimos recuperar esse valor. Também perdemos com a volatividade, porque quando saiu a notícia da FTX, o mercado despencou — argumentou à coluna o CEO e fundador da Ubuntu, Jeison Santos.
Com a perda do dinheiro, Santos diz que cortou custos para tentar devolver o dinheiro aos clientes. O espaço físico foi devolvido, a equipe foi reduzida e garante não ter pego novos clientes.
— Reduzimos a equipe para ter mais dinheiro em caixa e fazer devoluções aos investidores. Temos tentado fazer comunicado por e-mail e agenda com investidores. Não conseguimos responder todos na hora, mas estamos organizando — disse.
A empresa, porém, espera recuperar o dinheiro dos clientes continuando a operar com criptomoeda. Quem está há mais tempo sem receber terá prioridade. Santos quer criar um comitê de investidores que acompanhará a situação mais de perto.
Na operação da Ubuntu, o cliente escolhia um produto financeiro, no qual depositava um valor em reais, convertido para criptoativo. Esse ativo era alocado em operações, e depois, à época do retorno, era convertido novamente para reais. No site, a empresa explica que mercado de criptomoedas não é regulado pelo Banco Central nem pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que, por isso, não há impeditivos para exercer as atividades.
A lei que regulariza o mercado de criptomoedas no Brasil foi aprovada no final do ano passado, mas tem até o meio do ano para passar a valer. Atualmente, estão sendo elaboradas as diretrizes para saber qual será o órgão regulador. A coluna procurou o Banco Central para saber como anda a definição, mas o órgão não falará sobre o assunto. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informa que recebe com frequência queixas de casos semelhantes, mas, por enquanto, não é responsável por fiscalizar este tipo de operação.
Orientações para investir em cripto
Para o diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), Bernardo Srur, conhecer o setor é a primeira dica para investir em criptomoedas. O executivo não conhece a Ubuntu, que não é associada à entidade.
- Regra básica: só invista no que conhece. Hoje o mercado possui uma gama de ativos digitais, alguns mais voláteis, outros lastreados em outros ativos, como dólar, ouro. Além disso, existem outros tipos de token que são considerados de renda fixa. É importante que a pessoa conheça o mercado, entender os ativos nos quais vai investir.
Outra orientação é procurar por empresas estabelecidas e preferencialmente, brasileiras, que estarão enquadradas dentro das políticas de proteção ao consumidor. Ele explica, por exemplo, que os negócios associados a Abrecipto precisam seguir regras "rígidas" de proteção do dinheiro do investidor.
A terceira dica é, conhecendo o ativo e escolhida a empresa, pesquisar sobre ela nas redes sociais. Veja se ela tem um índice positivo de respostas a possíveis problemas e quais são as reclamações.
— Já a quarta dica é: desconfie de promessas milagrosas. Se tem uma empresa que está prometendo dar 8%, 9%, 7% ao mês de rentabilidade fixa, desconfie. Porque dificilmente ativos digitais, assim como no mercado financeiro, terão rentabilidade que chega a 100% por ano.
A última orientação de Srur é que investimento em cripomoeda é uma operação de longo prazo.
— Mesmo que já tenha um ambiente seguro, entenda que esse mercado, a maior parte, possui uma grande volatividade. Sempre quando pensamos em investimento e potencial da cripto, temos uma grande volatividade. É um mercado de longo prazo. Sempre pense que essa volatilidade pode fazer com que, no mês, haja bastante variação.
O que diz a Ubuntu
A empresa também enviou uma nota à coluna, que está reproduzida abaixo.
"A Ubuntu Finanças, Fintech foi fundada em 2018, com o falência da corretora FTX, em dezembro de 2022, ficou sem acesso aos seus recursos e iniciou um período de crise. Ocorre que a estratégia para garantir a operação e a rentabilidade, mesmo com a volatilidade da criptomoeda, era o Hedge, que se encontrava na FTX, afetando o recurso que estava inclusive aplicado em outras corretoras, pois houve a queda do mercado geral.
Diante disso, as estratégias de recuperação foram as seguintes:
* redução de custo de recursos humanos e de estrutura. Fato que gera a dificuldade na comunicação pela demora de respostas.
*Não receber mais aportes financeiros. Mas atuar como exchange e receber pelo serviços, para gerar ativos sem comprometimento e pode adimplir com seus investidores.
*Realizar reuniões com os investidores via meeting, a partir de agendamos.
*Enviar comunicados Quinzenais sobre quais ações seguimos executando para solucionar a crise.
*Centralizar as comunicações no e-mail falecom@ubuntufin.com.br.
*Criação do Comite dos Investidores da Ubuntu, investidores que estão mais perto da empresa para que tenhamos uma comunicação mais transparente e rápida.
E disponibilizamos mensalmente via email a lista de Ids dos contratos que mesmo em atraso vem sendo pagos, a medida que os recursos são minerados.
“Como todos os investimentos em renda variável, sempre estão suscetíveis a riscos, a criptomoedas possui uma grande oscilação no Mercado Financeiro, e precisamos ter um pouco mais de paciência para que haja uma reversão no cenário atual, somos experientes e otimistas, trabalhamos há 05 anos com criptos e estamos fazendo outras operações para solucionar esta crise, todos nossos investidores serão pagos" , disse Jeison Santos, CEO da Ubuntu Finanças."
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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