Desvincular do mercado internacional era mais do que o esperado para a mudança da política de preços da Petrobras anunciada na largada da manhã desta terça-feira (16) para gasolina e diesel. A maior novidade, inclusive para o próprio setor de combustíveis, é a regionalização maior na formação do preço. A ideia é definir valores competitivos em cada mercado ou região.
Há risco de o Rio Grande do Sul ficar com combustível mais caro do que outros Estados, pela baixa concorrência. Assessor jurídico do sindicato que representa os postos de combustíveis (Sulpetro-RS), Cláudio Baethgen pondera que o mercado gaúcho tem mais dificuldade de importar do que o Nordeste, por exemplo, pela capacidade portuária. Além disso, a concorrência de fornecedor local é pequena, pois há apenas a Refinaria Riograndense, em Rio Grande, que é privada.
Dependeria também de aumento ou redução de consumo, o que levaria a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas, a elevar ou diminuir produção. O custo marginal deste movimento pode ser repassado pela Petrobras às distribuidoras, para cima ou para baixo. Para fechar, o próprio presidente Jean Paul Prates disse que o preço pode variar conforme o cliente que comprará o combustível.
A nova estratégia
Todos esses fatores, em um primeiro momento, levam o mercado de combustíveis a achar que pode resultar em redução final de preço, mantendo o caixa da Petrobras, ou seja, sem afetar os acionistas e a capacidade de investimento da empresa. Em tese, a paridade internacional, praticada até então, majorava os preços ao considerar outros custos e privilegiava unidades menos eficientes. Porém, são tantos, que há o temor de falta de transparência, o que, em outros momentos da história, levou ao uso político da empresa e a escândalos de corrupção, como a Lava Jato.
Apesar desta quebra com a paridade internacional, a nova estratégia de preços não parece se desvincular totalmente do mercado e percebe-se cuidado com a rentabilidade. A Petrobras, como exportadora de petróleo e importadora de insumos e também de combustíveis, ainda terá influência de preços do Exterior. Segundo uma fonte da coluna, manter este equilíbrio presente na política de preços trouxe alívio à equipe técnica interna da estatal, que se preocupa com a sustentabilidade financeira da empresa.
Foi uma disputa com o governo federal para convencer de que ela não poderia se desvincular do mercado. O próprio ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, diz com frequência que a Petrobras tem "função social". Analista de mercado da Quantitas Asset, Wagner Salaverry lembra que 63,4% dos acionistas da Petrobras não são do governo e investem na empresa pela promessa de que ela atuará pelas condições de mercado para manter-se. E não é só uma questão de agradar investidor, mas de manter a capacidade financeira de uma gigante que movimenta cadeias econômicas e que pretender ser peça essencial na transição energética do país, como diz o próprio presidente Jean Paul Prates.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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