Não é só a gasolina, o leite, a maçã e o carro que estão caros. O próprio dinheiro está. Um dos motivos, claro, é a taxa de juro Selic, referência da economia, definida pelo Banco Central e tão criticada pelo presidente Lula. Ela foi elevada para controle de inflação e deve cair só quando o cenário mostrar preços e contas públicas sob controle.
Mas há outros fatores. Um deles é a inadimplência de empresas e consumidores, que subiu com a inflação e o juro altos e que tem dado sinais de arrefecimento mais porque o crédito acabou ficando restrito. Outra causa do dinheiro caro é a incerteza em relação à economia, do macro ao micro.
Em particular, no caso das empresas, o dinheiro, além de caro, "secou" para muitas companhias. Além da apreensão com a economia, o rombo contábil da Americanas, que passou pela auditoria da PwC e trouxe dívidas imensas com bancos, fez as instituições financeiras ficarem muito mais retraídas para emprestar. Só que o crédito move a economia. Empresas mais alavancadas, com maior endividamento, são as que menos estão conseguindo controlar o impacto no caixa e na operação.
O reflexo disso vai do fechamento de lojas à disparada nos pedidos de recuperação judicial. Em paralelo, se proliferam as medidas cautelares de proteção contra credores ajuizadas por empresas - sendo muitas tradicionais aqui do Rio Grande do Sul - pedindo a suspensão da cobrança. São ações com segredo de Justiça. Por um lado, pode dar o fôlego solicitado pela devedora para pedir uma recuperação formal. Por outro, está retraindo ainda mais o mercado de crédito. Quem empresta quer ser pago depois e, se tiver risco de a Justiça autorizar que isso não ocorra, não vai disponibilizar o seu dinheiro ou cobrará caro por ele. Empresários estão chamando de "calote oficial", o que pode deixar o dinheiro ainda mais caro.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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