O aumento da mistura de biodiesel no diesel, que está em 10%, virou cabo de guerra entre indústria e transportadores. Enquanto isso, o governo Lula tem dado posições claras a favor dos biocombustíveis, inclusive com a retomada de impostos menores para o etanol. Os assuntos impactam uma importante empresa do Rio Grande do Sul, a BSBios, cujo diretor-presidente, Erasmo Battistella, deu entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Confira trechos abaixo e a íntegra no final da coluna.
Qual o reflexo na empresa do apoio do novo governo federal a biocombustíveis?
Estamos animados com a perspectiva desse novo governo no que diz respeito aos biocombustíveis. A diferenciação de alíquota tributária do etanol para a gasolina é fazer justiça antes tarde do que nunca, porque vínhamos defendendo e defendemos que devemos ter um tratamento diferenciado para as energias limpas em relação às fósseis. Não tenho absolutamente nada contra o diesel, gasolina e petróleo. Vamos usá-los, ainda, por décadas. Defendemos a diferenciação de alíquota para o biodiesel quando voltarem os impostos federais para ele e para o diesel, em janeiro de 2024. Temos interlocução com governo federal, Ministério de Minas e Energia, vice-presidente e ministro do Comércio e Indústria, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e todos reiteram que o governo quer tomar a decisão, agora em março, para retornar o crescimento de percentual de biodiesel. Para o nosso Estado é importante, porque é o maior produtor de biodiesel e tem perdido participação no mercado nos últimos anos, principalmente pela redução de mistura. Então, a volta para 12%, até 15%, vai beneficiar muito o Rio Grande do Sul.
O que achou da manifestação da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) de que o biodiesel rende menos no motor, o que aumenta consumo e eleva emissão de poluentes?
Particularmente, acho que foi uma declaração semelhante a de um piloto de avião com a bússola quebrada. No mundo todo, estamos vendo exemplos claros. Estive em janeiro em uma conferência de biocombustível nos Estados Unidos, que já está adicionando 20% de biodiesel. Já estão usando bioquerosene para aviação e o HVO, que é o diesel verde. E imagino que os Estados Unidos têm estudos bem aprofundados sobre isso. Estudo mostrou que em partes de Washington onde não se usa mais diesel fóssil, mas biocombustível, a perspectiva de vida aumentou em cinco anos. Outro exemplo é a Indonésia, grande produtora de óleo de palma, que passou a 35% de biodiesel. Acredito que a CNT se equivocou na nota e espero que ela, o mais rápido possível, a reveja. Aqui no Brasil já tivemos testes homologados, liderados pelo governo federal durante a presidência de Michel Temer, onde foram feitos os testes pra mistura de 15%, sempre supervisionados pela Agência Nacional do Petróleo. O biodiesel brasileiro tem uma qualidade superior ao europeu e ao americano. A BSBios tem feito exportações recorrentes de biodiesel para a Europa, e, nesta semana, estamos muito felizes porque saiu o primeiro navio de biodiesel do Brasil para os Estados Unidos, produzido em Passo Fundo com certificação americana. A CNT tem que ter um compromisso muito grande com a descarbonização. Falo com empresários do setor de transporte e vejo como estão preocupados com a transição energética. Que biocombustível usar? Vai ser o o caminhão elétrico? A hidrogênio? Estamos à porta de uma revolução no setor e precisamos estar alinhados.
Ouça a entrevista na íntegra:
Colaborou Vitor Netto
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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