O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Os últimos conflitos entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central, bem como a chegada da primeira reunião do ano do Conselho Monetário Nacional (CMN), que acontece nesta quinta-feira (16), intensificaram o debate sobre a meta da inflação. Há quem defenda que ela está muito baixa, o que impõe maiores restrições econômicas. Por outro lado, há os que acreditam que mexê-la agora poderia causar o efeito inverso ao esperado pelo governo. Mas, afinal, o que é essa meta? E para que ela serve?
O próprio nome do regime já dá um indicativo do que se trata a meta de inflação. É uma faixa limite definida pelo Conselho Monetário Nacional dentro da qual a inflação oficial do Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), precisa se encaixar. Hoje, no país, está em 3,25%, com uma tolerância que a coloca entre 1,75% e 4,75%.
Quem deve trabalhar para colocar a inflação nessa "caixinha limitadora" é o Banco Central. Para isso, ele utiliza alguns mecanismos que estão a sua disposição, como crescimento da base monetária, taxa de câmbio e, principalmente, controle da taxa de juro, que foi crescendo ao longo de 2022 e que hoje está em 13,75% no Brasil. Está alta, justamente como uma tentativa de baixar a inflação, que foi de 5,79% no ano passado.
Quem critica a meta de inflação argumenta que, por ela ser muito baixa, obriga o Banco Central a deixar a taxa de juro elevada, o que barra o crescimento do país. É o argumento, inclusive, do presidente da República. Há outra questão em jogo, as futuras pressões inflacionárias — como o fim da isenção de tributos federais para a gasolina — que podem tornar ainda mais difícil para a instituição monetária encaixar o índice dentro da meta.
Quem discorda em mexê-la agora, porém, argumenta que uma mudança pode dar efeito contrário ao esperado pelo governo. Isso porque uma das principais serventias de uma meta de inflação é dar previsibilidade sobre as medidas econômicas para o mercado, bem como garantir que o país não terá, por exemplo, um processo de hiperinflação ou descontrole inflacionário. Caso houve mudança, poderia ter realinhamento de expectativas, o que poderia pressionar ainda mais a inflação.
Apesar do debate ter ganho fôlego, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participará da reunião do Conselho Monetário Nacional, disse que uma possível mudança não está na pauta agora.
A modalidade ganhou força no exterior no início dos anos 1990. No Brasil, há meta de inflação desde 1999. De lá para cá, o país descumpriu a faixa em seis anos. Para os próximos dois anos, se não houver alteração, a meta será de 3%.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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