O gaúcho está consumindo 10 quilos a menos de carne de gado por ano. Em 2018, a média ficava em 38 quilos. Já em 2022, essa quantidade caiu pra 28 quilos, ou seja, uma redução de 26%. O levantamento é do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS.
Um grande motivo, é claro, foi a alta do preço, que, agora, é combinada com a perda de poder aquisitivo da população. Especialmente no segundo semestre de 2019, houve uma disparada no preço da carne bovina ao consumidor final. Coordenador do Nespro, o professor Júlio Barcellos também observa mudança no comportamento do consumidor, especialmente entre os mais jovens.
- Não quer dizer que as pessoas estão comendo menos carne, mas há uma migração para frango ou suíno. Na média geral, o consumidor gaúcho segue comendo 85 quilos de carne por ano, um número que se mantém estável com o passar dos anos - informa o professor.
Outros Estados
O Nespro identifica também que está entrando mais carne no Rio Grande do Sul vinda de outros Estados. Aqui, 200 frigoríficos disputam mercado e têm buscando matéria-prima fora. Em cinco anos, segundo o Nespro, o produto que não é gaúcho passou de 12% para 50% do total que é vendido nas prateleiras dos supermercados.
Preços
Algo que instiga os leitores da coluna que são produtores de carne é a diferença no comportamento dos preços. Em 2022, o boi gordo, ou seja, o preço pago ao produtor caiu 15,12% no Rio Grande do Sul. Enquanto isso, subiu ao consumidor. No caso da carne bovina de origem gaúcha, a alta foi de 2,6%. Já a vinda de outros Estados teve elevação de 4,8% nos supermercados de Porto Alegre, conforme o levantamento também do Nespro. A Capital responde por 60% do consumo de carne no Estado.
- Em toda uma cadeia produtiva longa, aquele setor que está mais distante do consumidor fica com a menor parte e mais vulnerável na hora da negociação. Há muitos produtores, poucos frigoríficos; depois, um grande varejo e concentrado em hipermercado é responsável por 80% da carne bovina comercializada no Rio Grande do Sul - observa o coordenador do Nespro, Júlio Barcellos.
Outro ponto curioso:
- Metade da carne que o gaúcho come é de zebu, que vem de outros Estados. Ela é mais barata do que a produzida aqui, mas subiu mais em 2022 - segue o professor.
Para fechar, chamou a atenção da coluna que as carnes em geral, não apenas de gado, tiveram alta média de 5,41% na região metropolitana de Porto Alegre em 2022, um pouco acima da inflação, segundo o IBGE. Na média nacional, a elevação foi de 1,84%. Barcellos afirma que a diferença reflete também a metodologia da pesquisa.
- O gaúcho consome cortes mais caros, que costumam ter mais espaço para aumento de preços, mesmo quando as famílias estão com o orçamento apertado.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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