Grande gerador de empregos, o setor da construção civil colhe frutos das fortes vendas do início da pandemia, mas alerta para a retração de agora que trará efeitos no futuro. Alta de juro e dos preços dos insumos estão entre os motivos. Confira trechos da entrevista no Gaúcha Atualidade com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, e o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum:
Com forte dependência do crédito, o setor lida como com a alta do juro?
José Carlos Martins: Vivemos uma defasagem. Quando se pergunta "vocês estão bem", eu digo "nossa, estamos vendendo pouco". Poxa, mas vocês estão contratando muita gente. É porque a nossa venda de hoje é o emprego de amanhã. O emprego de hoje é a nossa venda de ontem. O setor vendeu bem no primeiro semestre de 2021, mas foi vítima do sucesso e os insumos cresceram demais. O custo da construção cresceu três vezes o do Brasil. O que reajusta salários é praticamente um terço daquilo que subiu nosso custo. Sentimos a inflação na baixa renda, que compromete quase 100% do que pode na contratação do financiamento. E agora, com a alta de juro mais expressiva, começa a ter o mesmo problema na classe média. Não existe outra forma que não seja tentar reduzir custo.
Claudio Teitelbaum: Temos um problema seríssimo do impacto da taxa de juros. Hoje, precisamos de 40% a mais da renda familiar mensal do que antes. Para se ter uma ideia, uma pessoa que ia financiar R$ 200 mil, com juro de 6%, deveria ter renda de R$ 5 mil. Hoje, ela já precisa de R$ 7 mil.
Há perspectiva de queda nos preços do material de construção?
José Carlos Martins: Se a pessoa física está reclamando, imagina a construtora que vendeu Minha Casa, Minha Vida em 2020. Ela não tem reajuste, tem que entregar aquele imóvel. É disparadamente o nosso maior problema. Temos que encarar. O meu medo é que os preços caiam pela redução da demanda. É o pior dos mundos, quer dizer desemprego.
Mudou muito o comportamento de consumo na pandemia. Novos projetos residenciais, por exemplo, têm sala para armazenar compras da internet para que não fiquem empilhados atrás do porteiro. O que mais veio para ficar?
José Carlos Martins: A pandemia foi um aprendizado enorme. Apesar de toda a tragédia, as famílias perceberam a importância do seu lar. Aquela trinca no teto passou a incomodar. Não deu mais para ficar com o sofá rasgado. A casa que ficou pequena para o home office teve que ser trocada. Valorizou-se mais a qualidade de vida do que o bem supérfluo.
Ouça a entrevista completa:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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